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Uma geléia geral a partir do cinema

Qual é o tamanho do amor?

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Cá estou na redação do Estado, meio à deriva. Meu editor em exercício me dispensou de fazer a crítica de Avanti Popolo, do qual gostei bastante - e é curioso como, no meu imaginário, o filme de Michael Wohrman dialoga com outros dois em cartaz - A Primeira Missa, de Ana Carolina, do qual gosto, e devo ser o único, porque muita gente acha a diretora ressentida, e Riocorrente, de Paulo Sacramento, e deste não gostei, mas acho o diálogo que eles (os três filmes) proporcionam estimulante. Talvez faça um post aqui no blog. Fiz meus filmes na TV, escrevi um texto sobre os 35 anos de morte de John Wayne, que deve estar entrando no portal do Estado, e daqui a pouco vou a uma cabine na Paris, para ver O Enigma Chinês, o novo longa do francês Cédric Klapisch, de Albergue Espanhol e Bonecas Russas. Não são filmes que me falem muito, mas gosto do Klapisch de O Gato Sumiu, pelo qual tenho um carinho imenso. Mesmo nunca tendo morado em Paris, conheço razoavelmente a geografia da cidade e me fascina a forma como Klapisch, mostrando a dona em busca do gato, faz percursos perfeitamente plausíveis do bairro da Batilha. Até já andei por ali, identificando marcos que aparecem no filme. Pela manhã, assisti ao argentino Coração de Leão, que ganhou o Brasil o subtítulo O Amor não Tem Tamanho. É a mais improvável das comédias românticas. Depois de filmar o amor entre velhos de Elsa & Fred, que também tinha ganhado um subtítulo atroz no País (Um Amor de Paixão), Marcos Carnevale filma agora o amor de uma advogada e um, como é que se diz para ser correto?, verticalmente prejudicado. Sim, um anão. É verdade que não é um anão como os outros, porque, como observa a secretária ao saber o modelo de carro que ele tem, 'É um anão rico!'. Muito rico. Faz com que nossa heroína descubra o mundo com outros olhos, mas ela se envergonha e, na verdade, teme não ter forças para segurar o inevitável preconceito dos outros. De minha parte, adorei o filme, que tem um diálogo muito vivo e um par central maravilhoso (Julieta Diaz e Guillermo Francella), mas confesso que me tocou particularmente o diálogo entre pai e filho, 1) porque é um tema que sempre me fala e 2) porque o filho não é handicapé e, pelo contrário, é alto, belo, um rapagão que faz a fila andar. O filho lembra como se incomodava com os olhares para o pai, quando esse o buscava na escola. Coleguinhas, seus pais, todos olhavam o anão com curiosidade, mas o pai não ligava e ele parou de se incomodar. O pai confessa que se incomodava, sim, e eu tenho meus motivos - vocês sabem - para entender a cena do meu jeito, porque esse tipo de olhar curioso me acompanhou e acompanha a vida toda. Espero que essa percepção pessoalizada não tenha contaminado meu olhar, porque realmente me encantei com Coração de Leão. Torço para que o filme repita o sucesso de Elsa & Fred, que ficou meses, senão anos, em cartaz no antigo Belas Artes. Agora, chega. Lá vou eu desvendar o enigma chinês.

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