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Uma geléia geral a partir do cinema

Pro Dia Nascer Feliz

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

BERLIM - Acabo de assistir a El Telon de Azucar. Jah me haviam falado bem do documentario de Camila Guzman Urzua, filha de Patricio Guzman, cineasta chileno (e autor do documentario A Batalha do Chile, distribuido no Brasil, em DVD, pela Videofilmes). Espero que o filme jah esteja na lista de prioridades de Amir Labaki para seu Festival Internacional de Documentarios Eh Tudo Verdade. Se ainda nao estiver, alguem diga ao Amir, por favor, para ficar de olho em El Telon de Azucar. Camila fez um filme sobre o que era ser crianca, em Cuba, hah 20 anos, sobre a sua insercao (leia-se inserssao) no socialismo. O golpe de Pinochet pusera fim ao sonho da Unidade Popular e Fidel acolheu os exilados chilenos como o pai dela. Camila passou sua infancia e parte da juventude em Cuba. Depois, os pais se separaram, Patricio foi viver na Europa e ela, tambem. Mas volta agora a Havana, num documentario feito na primeira pessoa, intimo e confessional. Por queh? Na escola, Camila integrava o grupo chamado de Pioneiros, formado pela vanguarda da revolucao, que queria disseminar o ideal revolucionario do Che. Duas decadas depois, Camila percorre com sua camera a antiga escola, o antigo acampamwento de verao, e descobre ruinas - que nao deixam de ser, metaforicamente, as ruinas do socialismo cubano. Ela fala com antigos colegas que permaneceram na Ilha. Sao criticos, ironicos, mas todos agradecem a formacao que tiveram e dizem que, com toda dificuldade que possam estar enfrentando, nem sonhar em abandonar Cuba. O que eles nao teem lah nao encontrarao em lugar nenhum, porque nao eh nada material, nada que o dinheiro possa comprar. Fiquei muito tocado pelo filme, que documenta as transformacoes ocorridas no mundo (e em Cuba) mas cujo objetivo nao eh dizer que o sonho acabou, bye-bye, vamos todos nos converter ao neoliberalismo porque o mercado vai oferecer a solucao para todos os nossos problemas. Criticando, amorosamente, a revolucao de Fidel e a figura mitica do Che, Camila Guzman Urzua fez um filme baseado na esperanca, quem sabe na certeza, de que um outro mundo eh (tem de ser) possivel. El Telon de Azucar tem algo de Pro Dia Nascer Feliz. A escola, onde comeca e termina, eh soh um ponto de partida para uma investigacao sobre a juventude, seus sonhos e dificuldades, decepcoes e esperancas. No final de El Telon..., quase toda a turma que foi aa escola com Camila estah ausente. Houve uma diaspora. Estao todos, ou quase todos (alguns resistem), vivendo espalhados pelo mundo. Mas nao eh uma geracao perdida. Todos tiveram excelente formacao, ainda acreditam em alguma coisa. Perdida talvez seja a geracao de agora, criada na semi-economia de mercado, do dolar oficializado e do jeitinho que os cubanos estao dando para sobreviver. Voceh nunca viu a Cuba atual desta maneira. Pode-se ser critico sem deixar de ser afetuoso. Eh como Camila eh.

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