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Uma geléia geral a partir do cinema

Por que se matam os super-heróis?

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Em dezembro, entrevistei Anthony Russo quando ele veio à Comic.com para um painel sobre Capitão América - Guerra Civil. Disse-lhe que gostava muito de Chris Evans no papel, mas que o personagem emblemático, que fazia a diferença, era o Soldado Invernal. Acrescentei que, mesmo sem ter visto ainda Batman V. Superman, achava Henry Cavill o melhor ator entre os super-heróis e que depois dele só Sebastian Stan. Anthony disse que Joe, o irmão, gostaria de ouvir isso, o que me fez deduzir que ele pensa o mesmo, e acrescentou que eu esperasse por Guerra Civil. Vi hoje o filme e siderei. Devo ser dos raros (o único?) que termina um filme de super-herói chorando, mas a ligação entre Steve e Bucky, entre o Capitão América e o Soldado Invernal, me derruba. Há uma guerra civil que coloca em campos opostos Steve/Capitão e Anthony Stark/Homem de Ferro (m... Acho que escrevi Jim no texto de amanhã do Caderno 2. Tenho sempre de me policiar por causa do James Dean de Juventude Transviada, que era Jim Stark. O nome me vem automaticamente). No centro desse embate está Bucky/o Soldado - e estão questões como ética e legalidade. Mas o conceito de guerra civil também cinde o filme em dois núcleos, o cínico (humorístico?) liderado pelo Homem, de Ferro e o dramático, pelo Capitão. Converso com esses caras, diretores como Anthony Russo e Zack Snyder, e sei que não deliro com o que vou dizer. Anthony me jurou que não se preocupa com as reações de fãs porque não existem fãs maiores que Joe e ele. Qualquer fã de carteirinha sabe que foram quatro (cinco?) Capitães América ao longo da história. Steve/Steven Rogers e Bucky foram amigos de infância e juventude. Suas lembranças são todas de classe média - Queens, Brooklyn. Tony representa outra América. Poder, dinheiro. A raia miúda termina presa em Guerra Civil, mas foge. Acima das diferenças, permanece a fidelidade aos princípios. Gosto mais do Capitão América, admito. É o lado proletário, sincero. Tony é cínico. Robert Downey Jr. veste o papel como luva, mas tenho de admitir que, entre todos os super-heróis, é aquele com quem menos simpatizo. Mesmo quando o personagem se vulnerabiliza, não se humaniza de verdade. Aqui há uma mudança de comportamento, uma aceitação do erro, muito interessante, mas logo volta a arrogância do senhor do mundo. Por que os super-heróis estão se matando?, perguntei a Anthony Russo. Ele respondeu que não sabe, mas arriscou - olha o estado do mundo. Os super-heróis estão menos individualistas. Estão mais frágeis, devastados, física e emocionalmente. Quero dizer que gostei muito de Guerra Civil - talvez menos que de Batman Vs. Superman, mas quando digo que o novo conceito de qualidade de Hollywood está nesses filmes, nesses autores, e não nos Scorseses da vida... Não estou brincando.

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