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Uma geléia geral a partir do cinema

Over There

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Entrevistei na semana passada, pelo telefone, Chris Gerolmo, criador da série Over There, sobre soldados americanos na Guerra do Iraque. O programa passa na TV paga e a primeira temporada saiu em DVD (pela Fox). A entrevista ficou ótima. Gerolmo contesta a política do presidente George W. Bush no Iraque e diz o que qualquer pessoa sensata já percebeu - os EUA estão se enredando cada vez mais e criando um novo Vietnã, não importa as justificativas oficiais para uma guerra que tem a ver mais com petróleo do que com terrorismo e democracia. Gostei do cara. Achei sério, mas faltou uma pergunta, que eu gostaria de fazer agora, se tivesse chance. Entre a entrevista e hoje, quando escrevo essas linhas, rolou o caso dos quatro soldados americanos que vão a corte marcial porque estupraram, mataram e queimaram o corpo de uma menina iraquiana de 14 anos. Não sei se alguém vai explicar a barbárie dizendo que os caras são podres, mas a verdade é que há algo mais podre que eles. Essa é uma guerra sem heroísmo - a última boa guerra, como se diz, foi a de 1939-45, quando se lutava por ideologia e, ali sim, por democracia. A barbárie é expressão de uma crise moral que atinge os EUA, não é outro acidente. Primeiro foram aquelas fotos dos iraquianos humilhados, agora o estupro, seguido de assassinato. Exceções? Se você acha melhor pensar assim, se acalma sua consciência... Num episódio da série do Gerolmo que vi outro dia, um sargento tipo Schwarzenegger prende um iraquiano franzino, mas suspeito de terrorismo. O sargento, em princípio, pelo velho maniqueísmo que dita as cartas em Hollywood, representa o bem. O iraquiano, o mal. Mas bastava olhar na tela, e o Geromo deixava isso claro, para percedber que não é bem assim. Parecia um episódio de Os Monstros, do Dino Risi, aquele em que Vittorio Gassman e Ugo Tognazzi como dois policiais truculentos, parecendo dois gorilas, capturam o perigoso meliante e o sujeito é um infeliz desnutrido, magrinho de dar dó, e com cara de bobo. É, gente, o cinema produz muita mistificação, mas também nos ajuda a compreender o mundo. E eu gostaria de ouvir o que Gerolmo, que critica Bush mas considera os soldados americanos vítimas nessa guerra, teria a dizer sobre fatos tão horríveis.

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