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Uma geléia geral a partir do cinema

Os Profissionais

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Estava redigindo os filmes de amanhã na TV quando topei com um de meus cults, que vai passar no CNT, às dez da noite. Aliás, o canal está arrebentando nesta semana, porque iniciou a segunda com 'Por Um Punhado de Dólares', de Sérgio Leone, mostra amanhã 'Os Profissionais', de Richard Brooks, e fecha a sexta com 'O Último Pistoleiro', de Don Siegel, com John Wayne no papel de pistoleiro que está morrendo de câncer (e o jovem a quem ele dá lições de vida é interpretado por Ron Howard, que depois viraria o diretor recordista de público que todo mundo conhece). Uma semana de westerns impecáveis - um spaghetti, outro eletrizante como espetáculo de ação e o terceiro fúnebre, enterrando com o mocinho as lendas de um gênero que se tornou cada vez mais bissexto na produção de Hollywood. Já escrevi, aqui, que tenho o maior carinho por Richard Brooks. Ele fez grandes filmes nos anos 50 e 60 e alguns deles carrego comigo. 'A Última Caçada', sobre o genocídio dos índios; 'Gata em Teto de Zinco Quente', em que Liz Taylor e Paul Newman formam um dos casais mais belos do cinema; 'Lord Jim', em que Peter O'Toole dá o rosto definitivo ao herói trágico de Joseph Conrad; e 'Os Profissionais'. Vocês devem se lembrar - Ralph Bellamy faz o empresário norte-americano que contrata quatro mercenários (Burt Lancaster, Lee Marvin, Robert Ryan e Woody Strode) para resgatar sua mulher (Claudia Cardibnale), que foi seqüestrada por um revolucionário mexicano. Jesus Raza (Jack Palance). Só que a história não é bem assim e os mercenárioos precisam tomar partido quando descobrem o que está em jogo, e é o ptróprio conceito da revolução. Quando Brooks fez seu filme, em 1966, o mundo estava mudando e dali a dois anos ocorreria o célebre Maio, que até hoje não acabou. O filme é puro movimento, com uma fotografia deslumbrante de Conrad Hall. Brooks, como Visconti, havia descoberto a lente zoom e ela ocupa o centro de sua mise-en-scène. Mas, se a ação é intensa, não é dominante, pois é um filme em que reina a palavra. Uma cena é antológica. Do entourage de Jesus Raza participa Marie Gomez, como Chiquita. É com ela que Burt Lancaster fala sobre a revolução, que não é só política, mas comportamental. Juanita, de quem ele foi amante, continua dando? Sim. Para todos? Claro! Há 41 anos, a pílula e a minissaia estavam liberando o amor e o sexo e isso logo levaria ao sonho hippie de paz e amor, ao qual se seguiria a ressaca dos anos 70 e o pesadelo dos 80 (com a descoberta da aids). Não conheço filme que tenha final mais bonito do que 'Os Profissionais'. Quando ocorre tudo o que tem de acontecer, Ralph Bellamy grita que Lee Marvin é um filho da puta e vocês me desculpem o palavrão, mas ele é essencial (e deve ter sido atenuado na versão dublada que o CNT vai exibir). No meu caso, diz Marvin, foi um acidente de nascença, mas no seu, acrescenta ele para Bellamy, o senhor se fez (um fdp). Pode ser que hoje isso não provoque tanto impacto, mas em 1966... Na seqüência, vieram 'Meu Ódio Será Sua Herança' (The Wild Bunch), de Sam Peckinpah, e 'Butch Cassidy', de George Roy Hill. O western - e o cinema - nunca mais foram os mesmos.

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