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Uma geléia geral a partir do cinema

Os dez + de Almodóvar

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Sensacional a lista do Almodóvar coletada pelo Saymon, com os melhores filmes de todos os tempos. Não conhecia a tal lista, mas achei muito elucidativa. Só me pergunto o que, nos 12 anos decorridos desde então - já que ela é de 1995 -, o Pedrito iria retirar agora para acomodar suas novas preferências. Visconti ia cair fora? Afinal, Sedução da Carne (Senso) está em último... Por sinal, há uma citação a Belíssima em Volver e o Almodóvar, de novo na entrevista em Cannes, me disse que o filme do Visconti é o supra-sumo do amor de mãe. Ou seja, embora ligado no cinemão, ele nega um de seus pilares - Mãe Redentora, de King Vidor, com Barba Stanwyck - chama-se Stella Dallas no original - é considerado a Bíblia do amor de mãe por Daniel Filho e todo autor de novelas que se preze. Mas achei a lista muito interessante. Falei sobre A Noite do Caçador, de Charles Laughton, aqui no blog, no outro dia. O clima mórbido e fantástico deste filme é coisa de gênio. A Regra do Jogo, do Renoir, é um monumento - que Robert Altman tentou diluir em Assassinato em Gosford Park. A Malvada, do Mankiewicz, é outro monumento. Lá vem Bette Davis pedindo para a gente apertar o cinto, porque a noite será turbulenta. Leave Her to Heaven - Amar Foi Minha Ruína, de John Stahl. Juro que, quando acrescentei o post sobre o melodrama criminal de Michael Curtiz, ia falar no filme do Stahl, com Gene Tierney, mas me esqueci. Não sabia que o Almodóvar gostava tanto, mas acho que é a combinação perfeita do melodrama e do filme noir. Gene, com aquela cara de anjo, faz uma peste possessiva que não recua diante de nada por causa de sua obsessão pelo marido. Grávida, ela se atira do alto da escada para perder a criança, com medo de que o bebê roube a atenção do cara. E ela é tão louca que se envenena para acusar sua irmã, por quem o marido se apaixonou. Out of the Pass (Fuga ao Passado), de Jacques Tourneur, foi citado aqui por vocês como um grande noir. Quanto Mais Quente Melhor, de Wilder, e A Marca da Maldade, do Welles, é cada filmaço que só vendo. Mas eu confesso que, na lista de dez do Almodóvar há um filme que nunca vi e é Midnight, do Mitchell Leisen, com Claudette Colbert e Don Ameche, um quiprocó sobre condessa húngara que se mete em confusões matrimoniais em Paris. O filme foi escrito por... Tã-tã-tã, Billy Wilder. No Brasil, chamou-se Meia-Noite. Leisen estudou arquitetura e foi ser cenógrafo e figurinista em Hollywood. Fez filmes que têm a cara dos anos dourados dos grandes estúdios, mas, como diz Jean Tulard em seu Dicionário de Cinema, no fundo ele não gostava muito do que fazia ou então intuiu que o cinema ia mudar e não haveria mais espaço para o tipo de filme sofisticado que fazia. Nos 50, Mitchell Leisen desistiu da carreira e montou um ateliê de decoração de interiores e uma alfaiataria. Não é demais? O diretor que preferiu ser alfaiate. Almodóvar gosta de Meia-Noite, mas Mitchell Leisen poderia, muito bem, ser um personagem nos filmes dele.

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