PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Uma geléia geral a partir do cinema

Obama!

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Cheguei agora no jornal, tenho um milhão de coisas para fazer, mas não resisto a acrescentar logo este minipost. Milhões de americanos votaram ontem na maior e mais disputada eleição da história dos EUA - 65% de comparecimento num país em que o voto é facultativo e eleitores tiveram de esperar até oito horas, sob chuva e frio, para despejar George W. Bush da presidência. Barack Obama venceu. Talvez seja uma carga pesada demais toda a expectativa que este cara vai carregar. A vitória de um negro marca o retorno à essência do espírito americano, o melting point. Não sei por que, pode ser bobagem, mas me lembrei agora de todos aqueles heróis negros de John Ford, o Homero de Hollywood, que mostrou, com sua saga da conquista do Oeste, quanto custa construir uma civilização. Me lembrei de Woody Strode, como o Seargent Rutledge de 'Audazes e Malditos'. De Woody Strode, de novo, em 'O Homem Que Matou o Facínora'. Me lembro de Martin Ritt, que fez tantos filmes sobre (e contra) o racismo contra o negro - de 'Um Homem Tem Três Metros de Altura' a 'Sounder, Lágrimas de Esperança', passando por 'A Grande Esperança Branca'. Me lembro particularmente de um detalhe. Em 'Ver-Te-Ei no Inferno', o padre toma o partido da companhia de mineração e ameaça os operários, entre os quais estão infiltrados os integrantes do grupo terrorista, com o fogo do inferno. No seu filme seguinte, 'Sounder', Martin Ritt fechou a igreja. Tem aquela cena em que o grupo de escravos avança pelo campo e chega à igreja de portas lacradas. Num certo sentido, 'Sounder' é o 'Vidas Secas' do cinema de Hollywood. Sounder é o nome do cachorro e é do ângulo dele, o que ocorre com ele, como com Baleia, na obra-prima que Nelson Pereira dos Santos adaptou do romance de Nelson Pereira dos Santos, que o diretor expressa sua crítica. Quero crer, num devaneio poético, que o republicano Ford e o democrata Ritt apoiariam o que há de progressista nesta vitória. Tanto sofrimento, tanta expectativa. Obama vai dar certo? Será o presidente que o mundo espera? Vai restabelecer a imagem da 'América'? Isto é para depois, para amanhã. Agora, valeu. Valeu!

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.