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Uma geléia geral a partir do cinema

O pior já passou

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Olá! eis-me de volta, meu primeiro post em quase 15 dias, após a cirurgia. Estou bem. Dores suportáveis, fazendo os exercícios recomendados pelo médico e pela fisioterapeuta, tudo vai indo. Agradeço as mensagens de carinho, os telefonemas. Mas deixem-me confesssar uma coisa - não é fácil. Essa cirgurgia é muito invasiva. Olho meu peito, diante do espelho, e não acredito neste corte que é um talho de cima a baixo. Já andava magro, por causa da diabetes, mas agora me sinto como se fosse um fiapo. Assumi muitas vezes que sou manteiga derretida, emotivo demais, mas nunca me senti tão suscetível. É uma cirurgia que mexe muito com a gente. Me lembro quando foram feitos os primeiros transplantes de coração. Surgiram todo tipo de abordagens na mídia, como aquilo ia mexer com a gente, num sentido amplo, cultural. A gente mistifica tanto o coração como o órgão do amor, como o centro dos sentimentos. No final, é pura fantasia. Tudo vai se acomodando e eu não fiz nenhum transplante, afinal de ciontas. É o meu velho coração que continua batendo, com duas safenas e duas mamárias retiradas de minha perna. Mas algo está diferente, não sei. Tem horas que me sinto depresssivo. A psicóloga, na clínica, disse que seria assim mesmo, no começo. O cinema tem me ajudado bastante. Ainda não consegui me acomodar para ler. Os livros me pesam e, se tento apoiá-los no peito ou elevá-los um pouco, na posição deitado, ou sentado, a dor é forte. Tenho conpensado com filmes e passeios. Tenho visto muita coisa em casa, na TV paga e em DVD. Fui ver 'A Duquesa' no Arteplex e 'Os Estranhos', no Eldorado. Passeei no Parque Ibirapuera, no Villa-Lobos. Gostei de 'A Duquesa', um filme que parece que vai seguir uma estrutura romanesca - sobre Giorgiana Spencer, uma espécie de pré-Ladi Di e é impressionante como os ingleses são pródigos nesssas histórias de triângulos e quadriláteros proibidos (ou infelizes) na aristocracia. Mais até do que Martin Scorsese em 'A Idade da Inocência', acho que o diretor Saul Dibb fez um filme duro sobre o teatro da aristocracia. E a discussão que ele propõe sobre a roupa como uma forma de a mulher se expressar foi o elo que faltou na fala de Meryl Streep em 'O Diabo Veste Prada'. Quero salar sobre 'Os Estranhos', que detestei, sobre 'Winchester 73', de Anthony Mann, que revi pela manhã na TV paga e é maravilhoso, sobre 'O Intrépido General Custer', que vi ontem em DVD e deve ter sido a súmula para as teorizações sobre o herói de Joseph Campbell (mesmo que esteja provado que esta ficção, na realidade, foi outra). Mas canso com facilidade. Vocês vão ter paciência. O pior, presumo, já passou.

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