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Uma geléia geral a partir do cinema

O Manifesto

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Interrompi ontem um post dizendo que ia ao teatro e depois voltei no meio daquela confusão sobre Florestano Vancini. Volto agora à peça que fui assistir - O Manifesto. É teatrão, dos bons. Havia dado uma olhada no programa, antes que começasse, e vi que a peça estreou nos anos 80, com Jessica Tandy e Hume Cronyn. Os dois formavam uma espécie de casal 20 do teatro dos EUA. No fim da vida, atuaram juntos e fizeram sucesso com Cocoon. Hume foi o conselheiro de Cleópatra no filme de Joseph L. Mankiewicz com Elizabeth Taylor, que eu amo. Jessica ganhou o Oscar por Conduzindo Miss Daisy. Grande dupla. Enfim, começou a peça. Uma longa conversa sobre a intervenção de Bush Jr. no Iraque. O marido, militar reformado , é a favor. Descobre que a mulher assinou um manifesto contrário à guerra. Discutem e o pessoal interfere no político. Terminam lavando roupa suja, reabrindo velhas feridas - como o adultério dela, que ele guardou em segredo, como se não soubesse, por mais de 30 anos. Em princípio, não gosto muito de teatrão. No teatro, até mais do que no cinema, talvez por ser encenado ao vivo, quero ver coisas fortes, intrigantes e não meras banalidades. Fico constrangido pelos atores, porque sou do tipo que só aplaude gostando, não por mera formalidade. Achei o texto legal, adorei os atores, mas o tempo todo fiquei matutando. Se a peça estreou em 1986, não era sobre o Iraque, que é posterior ao 11 de Setembro. Fui ler depois o programa e descobri que se passa em 1946 e é sobre a bomba em Hiroshima. É um bom trabalho de adaptação, até porque o diretor Flávio Marinho põe cacos bem brasileiros, que duvido que estejam no original, como o famoso 'que seja eterno enquanto dure', de Vinicius. O autor da peça é Brian Clark. Você sabe quem é. Clark escreveu a peça original e adaptou para a tela De Quem É a Vida, Afinal?, que virou filme de John Badham, como o sujeito que fica paralítico e briga na Justiça, com o médico e o juiz, pelo direito de morrer. O filme é do final dos anos 70. Foi feito depois de Embalos de Sábado à Noite, que Badham fez com John Travolta. De Quem É a vida discute a eutanásia, o direito de matar (e morrer) com dignidade, ao qual Amenábar e Clint voltaram com Mar Adentro e Menina de Ouro (e eu gosto mais do segundo). Mas, enfim, este Brian Clark é o Peter Weir do teatro. Sabe tornar palatáveis, para platéias burguesas - a do Renaissance, ontem, era a fina flor da meia-idade bem sucedida -, os temas mais espinhosos. Gostei. Ontem foi um dia que aplaudi sem nenhum constrangimento. Mas acrescento outro post, daqui a pouco, para falar do elenco.

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