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Uma geléia geral a partir do cinema

Mostra de SP (10)/Zé do Caixão!

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

José Mojica Marins que me perdoe, mas Matheus Nachtergael consegue ser um Zé do Caixão melhor do que ele. Matheus é melhor Zé Mojica que o próprio. Brinco, mas não tanto assim. Pertenço a uma geração que, por ideologia ou estética, não tinha muita paciência com o horror à brasileira de Zé do Caixão. Via seus filmes em Porto Alegre no antigo cinemas Carlos Gomes. Com o tempo, aprendi a respeitá-lo, mas gostar, gostar mesmo, acho que nunca. E aí vi hoje a minissérie (6 capítulos) da Turner que vai ao ar em 13 de novembro. Quer dizer, vi dois capítulos numa cabine da Turner e da Mostra, antecipando a sessão oficial de amanhã, quando José Mojica Marins será homenageado pela Mostra, recebendo o troféu Leon Cakoff. Vi dois capítulos corridos de Zé do Caixão. Amei. O filme/série de Vítor Mafra (quem é?) é sobre o processo criativo de Mojica. Machista, escroto, o personagem tem tudo para ser o horror (redundância) dos corretos e das feministas. Fuck! Na concepção do diretor, Mojica é o nosso Ed Wood. Podemos até rir dele, mas é um sonhador que luta para encontrar seu caminho, e quando encontra vai fundo. Os dois episódios contam a gênese do primeiro filme, um western brasileiro, Sina de Aventureiro, e o segundo, a criação de Zé do Caixão. Não pude ficar para a coletiva, e não sei quanto daquilo é verdade, ou se é pura ficção, mas amei o desejo do padre pela gostosa (Sarita), que Mojica promete transformar em estrela (e com quem transa entre as cenas de bangue-bangue). Sorry, mas na minha ficção ela dava para o padre, porque além de tudo formam um belo casal. Depois vem a crise, a chacota, o fundo do poço. E o ressurgimento via Zé do Caixão. Nunca gostei tanto de Mojica, nunca o respeitei tanto. Sua vertigem criadora, reinventada por Matheus Nachtergaele, fez dele, para mim, um personagem (e um artista) maior do que imaginava. E o Matheus é danado. Pequeninho daquele jeito, cresce na parada. Confesso que - sim! - chorei. Um choro de euforia. Pelo Mojica, pelo Matheus. Saio da sala de olho vermelho e topo com Matheus, que chegava para a entrevista. Pequeno grande homem. Só me resta agora ir à homenagem a Mojica. E arrisco. Não sei dos demais capítulos, mas os dois primeiros poderiam, ir para o cinema. São melhores que algumas coisas (muitas?) que tenho visto recentemente.

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