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Uma geléia geral a partir do cinema

Mackendrick, do noir à pirataria

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Régis, 'tou contigo e não abro - também adoro A Vida Íntima de Sherlock Holmes, que considero o mais hitchcockiano dos filmes que Hitchcock não realizou. O clima romântico e um tanto mórbido me lembra Rebecca, a Mulher Inesquecível e eu, que adoro o mestre da dedução, viajo na melancolia que o grande Wilder imprimiu à sua história, narrada em episódios com uma progressão dramática. Aproveitando, quero acrescentar que nunca vi a versão restaurada, que acrescenta um episódio inteiro, de 15 minutos ou coisa que o valha, que havia sido cortado na época. Acho que é um dos grandes filmes de Billy Wilder, mas, em 1970, na ressaca do Maio de 68, seu Sherlock Holmes foi considerado demodê, o que não é, pelo menos para mim. Régis também me pede que comente A Embriaguez do Sucesso, de Alexander Mackendrick, com Burt Lancaster e Tony Curtis, de 1957. Esse Mackendrick não era mole. Nascido nos EUA e criado na Inglaterra, é considerado um dos grandes da comédia tipicamente inglesa, com Quinteto da Morte (que depois foi refilmado pelos irmãos Coen, com Tom Hanks), mas eu prefiro A Embriaguez, um noir dos bons, com Burt no papel de um colunista manipulador e Tony como o sujeito que faz qualquer coisa para ficar bem com ele. A cena do Burt na janela do escritório, com a cidade toda iluminada ao fundo, ele parecendo pairar sobre tudo e todos, é espetacular. E, ah, sim, Elmer Bernstein criou um score incrível de jazz, só faltando acrescentar que a fotografia em preto-e-branco é de James Wong Howe, já incensado neste blog, por vocês e por mim, pelas deslumbrantes imagens dos filmes de Martin Ritt (e também Picnic, Férias de Amor). Mas eu tenho de confessar - por maiores que sejam meus elogios a Sweet Smell of Success (título original), o Mackendrick do meu coração é o de Vendaval na Jamaica, uma aventura de pirataria na qual Anthony Quinn recolhe crianças dos mares e elas se revelam mais flibusteiras que ele. Poucos filmes foram tão longe na abordagem dos aspectos mais sombrios da psicologia infantil. Não sendo exatamente igual, Vendaval na Jamaica é da mesma cepa de A Inocente Face do Terror (The Other), de Robert Mulligan. E o filme ainda tem uma trilha com solo de harmônica, não me lembro de quem, mas boa demais.

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