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Uma geléia geral a partir do cinema

La Magnani (1)

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Datas redondas sempre convidam às homenagens, ainda mais se se trata de um centenário como o de Anna Magnani, que se completa em 2008. O Centro Cultural São Paulo lembra a data por meio de um ciclo que homenageia a diva do neo-realismo. Há aí uma contradição em termos. Um dos preceitos do neo-realismo era justamente a utilização de atores não profissionais para interpretar pessoas comuns, do povo. Lamberto Maggiorani e Enzo Staiola ('Ladrões de Bicicletas') e Carlo Battisti ('Umberto D') fazem parte das emoções inesquecíveis de qualquer cinéfilo que se preze. A cena em que Battisti, atormentado pela falta de dinheiro, vive o dilema de mendigar ou não - e usa seu cachorrinho como fachada - é coisa de gênio, mas eu fico pensando se vocês não vão achar que é torpe, destinada a provocar lágrimas baratas. Brincadeirinha... Anna Magnani não era nenhuma amadora quando Roberto Rossellini lhe deu aquele papel em 'Roma, Cidade Aberta', o filme-arauto do neo-realismo. Aliás, se era um novo realismo, era novo em relação a que? A discussão ultrapassa os limites deste post, que visa chamar a atenção sobre Anna Magnani e a homenagem que lhe presta o CCSP. A mais italiana das atrizes nasceu no Egito, em Alexandria. Consagrada no teatro - por sua interpretação em 'Anna Christie', de Eugene O'Neill, que Garbo criou no cinema -, Anna já estava no cinema em 1934. Desta primeira fase, pré-neo-realista, o ciclo resgata um filme raro de Vittorio De Sica, 'Teresa Venerdi', que eu nunca vi, confesso, e pelo qual tenho a maior curiosidade. Embora já tivesse mais de dez anos de estrada, Anna começa, de verdade, com a Pina de 'Roma, Cidade Aberta', a partir do qual desenvolve uma verdadeira mitologia da mulher comum, à qual confere uma dimensão épica, entregando-se em interpretações sinceras que privilegiam a emoção sobre a técnica. Creio que o desafio da Magnani foi sempre equilibrar seu temperamento excessivo com uma maior confiança em si mesma como mulher, e não como mito. Continua no próximo post.

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