Foto do(a) blog

Uma geléia geral a partir do cinema

James Ivory

PUBLICIDADE

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

MONTEVIDÉU - Aqui estou de novo postando da capital uruguaia. Ontem, fiz o recorrido das praias. Fui almocar em Punta del Este, uma paella maravilhosa. Na chegada, o motorista, sabendo que era brasileiro, resolveu mostrar uma coisa. Uma casa imensa, toda cercada, o que eh meio estranho, porque os jardins lah sao todos livres. O cara brincou. Disse que havia ajudado a construir aquele palacio e acrescentou que era de Collor de Mello. Nao sei se eh verdade, mas como cenario eh impressionante. Enquanto esperava o carro para ir a Punta, li um jornal de Buenos Aires. Descobri que James Ivory estah filmando na capital argentina. O filme chama-se The City of Our Final Destination, A Cidade do Nosso Destino Final, o que pode ser uma metafora para a morte, nao sei. O filme eh interpretado por Anthony Hopkins, que estah, ou estava, em Buenos Aires. A filmagem parece que terminou ontem e agora a equipe segue para dez dias de filmagem em Nova York. A historia trata de um homem que tenta conseguir autorizacao da mulher, da amante e da filha para contar a historia de um milionario que morreu. Por que faz isso, nao tenho a minima ideia. Tambem nao sei se se trata de uma adaptacao, mas a logica me autoriza a crer que sim, pois Ivory eh um adaptador nato. Nao me lembro agora de nenhum filme dele que seja baseado em um roteiro original (deve haver algum da Ruth Prawer Jabvalla, sua roteirista habitual). Nao sou o maior fa de Ivory, embora reconheca o valor de alguns de seus filmes. Em geral, os que gosto nao sao os que os outros mais admiram. Vestigios do Dia, por exemplo, que ele realizou baseado no romance de Kazuo Ishiguro, eh muito bem feito, mas nao tem a forca corrosiva de O Criado, de Joseph Losey, que acaba de sair em DVD no Brasil. Ivory costuma ser comparado a Visconti pelo detalhismo cenico e pelo gosto em contar historias desenroladas no passado. Uma vez, entrevistei Ivory em Veneza, no Lido, no Hotel Des Bains, e cometi o erro de comentar que, na sala em que estavamos, Silvana Mangano entrava por aquela porta, emoldurada por imensos vasos com palmas, numa cena-chave de Morte em Veneza. Ivory ficou irritado com minha lembranca. Achou que era provocacao. Descobri que ele detesta Visconti, detesta, principalmente, que o comparem ao grande Luchino e, pior que tudo, acha que Visconti eh supervalorizado, que o fato de ele trabalhar com atores de varias nacionalidades (Burt Lancaster, Alain Delon e Claudia Cardinale em O Leopardo; Delon, Katina Paxinou e Annie Girardot em Rocco)e depois dubla-los todos em italiano fica uma coisa tecnicamente ruim. Contestei e o Ivory quase terminou a entrevista, que foi uma individual, nao uma coisa de grupo. Encontrei-o outra vez, em Cannes, e ele ironizou - chamou-me de Visconti's boy. Enfim, apos toda essa digressao, quero dizer que nao gosto muito de James Ivory porque acho a mise-en-scene dele uma coisa meio mole, meio apatica. Ivory nao sabe ser duro, nem em Vestigios do Dia ou nao como Losey. Mas achei interessasnte que ele, depois de Babenco (O Passado), também esteja filmando na Argentina. Continuo o post daqui a pouco.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.