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Uma geléia geral a partir do cinema

In on it... Escuro!

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Vi duas peças no fim de semana. Não deixam de estar relacionadas. No sábado, 'Escuro', texto e direção de Leonardo Moreira. Domingo, 'In On It', texto de Daniel McIvor, direção de Enrique Diaz. Ambas possuem qualidades, mas me produziram variados graus de frustração. 'Escuro' lida em torno de deficientes visuais e auditivos para discutir formas de comunicação. Cá comigo, cheguei à conclusão de que deficiências e comunicação são perfumarias e o tema de 'Escuro' é o tempo, a simultaneidade das ações, muito difícil de construir no palco. Minha impressão, até pelos tipos que direção e elenco criam, foi a de estar vendo no teatro um filme de Ettore Scola. Um Scola sem graça, vá lá que seja. 'In On It' prossegue com as pesquisas de linguagem de Enrique Diaz, com uma diferença que não é pequena. Em 'Ensaio Hamlet' e 'A Gaivota', ele desconstruiu textos clássicos de Shakespeare e Chekhov. Em 'In On It', pelo que entendi, a proposta do texto já é aquela mesma. Vai nisso uma diferença e tanto. Ao movimento de desconstrução corresponde agora um de construção dramática. Interessante, sem dúvida, mas não consigo deixar de pensar que o que era novidade em 'Ensaio Hamlet' se assemelha cada vez mais a repetição. Havia gostado menos de 'A Gaivota' e menos ainda, agora, de 'In On It'. Mas, enfim, quem sou eu? Críticos de teatro estão fazendo outras avaliações, mais elogiosas. Quero falar do público. Havia em 'Corte Seco', um momento em que um dos atores parava a peça para interrogar o público - 'Do que vocês estão rindo? Isso não é para rir...' Longe de mim querer ser autoritário, apontando a forma como as pessoas devem fruir o 'espetáculo'. Aliás, adorei a piada. Emílio Di Mello fala justamente em espetáculo e Fernando Eiras corrige - isso não é espetáculo, é teatro. Em 'Escuro', a garota fanha tenta falar e cada intervenção dela é um estouro de riso da plateia. Não estou cobrando correção, mas aquele riso crescente começou a me incomodar. Chega a cena em que ela canta. Achei linda, emotiva. Pensei comigo - as pessoas vão parar de rir, vão captar a emoção. Elas riam mais ainda. Caí em depressão. Mas, enfim, o problema pode ser meu. Não entendi a 'proposta'. A minha (proposta) era outra. Não é isso que sesses grupos todos querem - a nossa participação lúcida? 'In On It' cai numa facilidade, para mim. Emílio De Mello e Fernando Eiras fazem várias personagens, incluindo mulheres. Nas cenas em travesti, não sei se carregam demais nos trejeitos, mas a plateia se descontrola. Vira 'A Gaiola das Loucas'. Não duvido que seja esse tom de comédia radical que esteja lotando o teatro da FAAP e levando a temporada a ser prorrogada. Sei que, por mais interesse que tivesse pelas montagem - e algumas coisas elas sustentaram -, fiquei desapontado.

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