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Uma geléia geral a partir do cinema

God-art

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Comentei com o Zanin (meu colega Luiz Zanin Oricchio, que tem blog próprio no Estado), na sexta-feira - no começo dos anos 70, a ditadura militar aperfeiçoara seu sistema repressivo e ainda ganhara apoio popular, no bojo de uma campanha nacionalista (Brasil, ameo-o ou deixe-o) fortalecida pela conquista da Copa do Mundo do México. Filmes, livros músicas e peças eram proibidos, artistas eram perseguidos. Naquele quadro, a gente acompanhava só à distância a carreira de Jean-Luc Godard, que, após Week-End à Francesa, de 1969, desvinculara-se do cinemão para criar, com Jean-Pierre Gorin, uma célula revolucionária. Surgiu, então, o Godard militante, que Jean Tulard chama, em seu Dicionário de Cinema, de 'professor da revolução'. Godard assinou filmes tecnicamente rudimentares e didáticos para discutir, no pós-Maio de 68, a revolução. Pode-se agora contestar essa noção de 'rudimentar' e também assinalar que nada como o tempo. Bastará sintonizar hoje, às 22 horas, de novo no Telecine Cult, para ver Sympathy for the Devil, um dos filmes mais famosos de Godard daquela fase. O título remete à música famosa dos Rolling Stones e o filme mostra a banda, Mick Jagger e Keith Richards à frente, ensaiando e gravando num estúdio. Como num documentário - mas todo filme de Godard era meio documentário -, ele cria cenas para falar de Panteras Negras, racismo, pornografia, violência, marxismo. Godard teve um papel fundamental na desconstrução da narrativa cinematográfica nos anos 60. E ele, devoto de Fritz Lang, não resistiu a filmar com o mestre alemão de Coração de Apache (hoje no Telecine Cult, às 14h10). Em 1963, Brigitte Bardot era a maior estrela da França e Jean-Luc Godard o grande revolucionário do cinema. Esperto, o produtor Carlo Ponti, marido de Sophia Loren, que arruinara o bom nome de Vittorio De Sica, transformando-o em artesão de filmes formatados para o brilho de sua mulher, contratou Godard e BB para uma adaptação do romance de Alberto Moravia, O Desprezo. Godard fez o que quis - e transformou Fritz Lang no diretor do filme dentro do filme, uma adaptação de Homero (a Odisséia) filmada com estátuas gregas, na qual Lang faz a mesma interrogação de Joseph L. Mankiewicz em outro filme que estava sendo rodado na época, Cleópatra. Por que as estátuas não tem olhos? A resposta fica para você, com a sugestão de que veja Sympathy for the Devil. O filme tem duas versões. Além da que passa hoje na TV paga, há outra, um pouco mais longa, chamada One Plus One.

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