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Uma geléia geral a partir do cinema

Estranho acidente, Joseph Losey no Rio

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Li o comentário do Carlos Pereira, sugerindo ao Daniel que procure a crítica do grande Hélio Nascimento sobre O Assassinato de Trotsky em seu livro O Poder da Imagem, uma edição da Prefeitura de Porto Alegre, na mesma coleção que abriga meu livro, A Paixão do Cinema. Me deu curiosidade de visitar a pasta de Joseph Losey no implacável arquivo do Estado. Achei coisas curiosíssimas. Uma crítica de Novais Teixeira, que durante anos foi o correspondente do jornal na Europa - e iniciou a tradição do Estado de cobrir o Festival de Cannes. Novais reconhece que Losey estudou, meditou e se documentou para fazer seu filme, mas esculhamba a banalidade da realização, reclamando principalmente da pobreza da simbologia, em especial na cena em que a imagem de Stálin sai de dentro da água. Vou ler o que Hélio escreveu antes de retomar o assunto Assassinato de Trotsky, mas achei curioso registrar duas ou três histórias. Em 1979, convidado por Jean-Gabriel Albicocco, representante da empresa Gaumont no Brasil, Losey veio prestigiar a estréia de Don Giovanni. Não tinha registro de que isso havia ocorrido e, menos ainda, de que Losey, por não dispor de visto, ficou preso, incomunicável, no Galeão, à espera de ser deportado para Paris, no mesmo avião da Air France que o trouxera ao País. Foi preciso mover céus e terras para que Losey fosse liberado, cinco horas depois. No dia seguinte, ele deu entrevista criticando o novo macarthismo de Hollywood, dizendo, há 28 anos!, que o poder econômico estava substituindo o ideológico que o levou, com muitos outros integrantes da lista negra, a se exilar na Inglaterra, nos anos 50. A tendência se acentuou, não? Finalmente, alguém perguntou a Losey quais seus filmes favoritos. Ele disse que não gostava de ir ao cinema com gente comendo pipoca na poltrona ao lado (hoje, teria de reclamar também das pessoas conversando ao celular, como se fosse a coisa mais normal do mundo). Losey, de qualquer maneira, destacou Providence, de Resnais, como o melhor filme que havia visto recentemente (era 1979, não se esqueçam). E ele revelou que, se tivesse de se mudar para uma ilha deserta, levaria três de seus filmes - O Criado, Mr. Klein e Don Giovanni. Filmes de outros cineastas? Não levaria nenhum. Preferiria levar o próprio Fellini, para conversar.

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