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Uma geléia geral a partir do cinema

E Tolentino deu de dez em Bob Wilson!

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Tive uma overdose de teatro no fim de semana. Na sexta, fui ver Os Realistas. No sábado, Garrincha. E no domingo, o Anti-Nelson Rodrigues. Eduardo Tolentino deu um baile em Guilherme Webber e Bob Wilson. Mas eu gostei, em termos, de Garrincha, mais do que de outras criações de Bób Uílsôn, como o chama Isabelle Huppert. Pode parecer pedante dizer uma coisa dessas, mas não é um de meus encenadores favoritos. Bob é pós-moderno, desconstrói o texto, e nem precisa ser o clássico. Valoriza o visual mais que a palavra, e tem como grande referência o cinema mudo e até, antes, o teatro de sombras. Trabalha muito no registro do preto e branco e da câmera lenta. Minha curiosidade era ver como colocaria em câmera lenta a explosão de Garrincha dentro de campo? Descobri a paleta de cores, a riqueza da seleção musical e - o melhor! - o conceito. Nem tudo que nasce torto é ruim. As pernas tortas de Garrincha, transformadas em letra de música, metaforizam o Brasil. Tenho de admitir que Bob Wilson entendeu o País. Seu Garrincha tem algo de macunaímico. Achei bonito, mas o Nelson Rodrigues, e o anti-Nelson, é outra coisa. Se o público não fosse tão colonizado esse Bob Wilson já tinha levado um chute na b... Todos aqueles atores maravilhosos do Tolentino - Clara Carvalho, Oswaldo Mendes - e uma descoberta (para mim), Augusto Zacchi, que faz o garoto. Oswaldinho tem a essência do canalha rodrigueano. Rouba da mãe, escreve cartas anônimas ao pai. Guindado à direção da firma, sente o maior tezão pela garota que promove a secretária. Oferece-lhe mundos e fundos, atraído por aquele 'rabo'. Ela resiste - quer amor. Até ontem não sabia da existência de Zacchi. Quer dizer, lembrei-me agora que ele fez Chuva Constante com Malvino Salvador. Hoje, já estou achando que esse guri é do balacobaco. Ao mesmo tempo que faz o Anti-Nelson, Zacchi ensaia Tennessee Williams, Gata em Teto de Zinco Quente, que vai fazer de novo com direção de Tolentino e com Barbara Paz no papel de Elizabeth Taylor, perdão, de Maggie, a Gata - que Liz imortalizou, naquela combinação, na versão do meu amado Richard Brooks. Como é para um jovem ator fazer Nelson e ensaiar Tennessee Williams? Estava ontem com um grupo do Caderno 2 no Teatro Nair Bello. Ninguém combinou, nos encontramos lá. Meu editor, Ubiratan Brasil, em férias, numa pausa entre a Praia do Forte e a Cidade do México. Antônio Gonçalves Filho. Zacchi me disse que anda louco, superligado, que tem pesadelos. Não vou poder ver Gata em Teto de Zinco Quente na estreia. Emendo o Recife com Cannes. Mas estou em transe para ver a Gata. Quanto aos Realistas, na apresentação, o diretor Guilherme Webber faz um jogo de palavras, fala em ironia do gênero, compara o autor, Will Eno, a Samuel Beckett pela ausência de progressão dramática e por um non sense, herdeiro do absurdo, que ele procura evidenciar pelo jogo musical e sem psicologismo. Beckett? Só se for sua diluição. E a montagem, com todo respeito, parece franquia. Ia procurar na rede para ver se o cenário é o mesmo da montagem nos EUA. Os personagens chamam-se Silva, João, José, tem citação a dengue. Por que raios, com tanto abrasileiramento, aquele Elvis Presley no final? Coisa mais disparatada. Reconheço o esforço, certo brilho do diálogo - Bob Wilson não tem nem isso, ou nada disso. Texto é o de Nelson. Com happy end, o anti-Nelson. Amei.

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