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Uma geléia geral a partir do cinema

'Diário de Um Louco'

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

RIO - Entrevistei Rodrigo Santoro para a capa de hoje do 'Caderno 2'. Rodrigo fala com um fervor tão grande sobre o Che de Steven Soderbergh e Benicio Del Toro que eu fico quase me sentindo culpado de não gostar do filme. Daniel Piza me perguntou hoje no programa da Rádio Eldorado por que não gosto? Acho que me incomoda uma coisa que ouvi do próprio Soderbergh em Cannes, no ano passado. Ele disse que nunca teve um envolvimento maior com o mito do Che e, quando o filme lhe foi proposto, interessou-se pelo personagem como se interessaria por qualquer outro sonhador que perseguisse o seu ideal. Che diz no filme que, para fazer uma revolução, é preciso ser um pouco louco, e isso puxou o título nacional, mas eu não sinto paixão nem loucura. Acho que Soderbergh olha o personagem meio de fora, sem comprometimento - o comprometimento que ele talvez tivesse com outro tipo de louco, com outro ideal (a revolução é demais para ele). Há uma falta de paixão que me gela. Che é um personagem maior que a vida. Não há como fugir a isso, seja a favor ou contra. Adorado como santo por camponeses da Bolívia ou venerado por neonazistas alemães - há um documentário sobre isso, 'Personal Che' -, ele não é único, mas múltiplo. Cada um tem o seu Che, lança o seu olhar sobre ele e o (re)constrói. Preciso rever 'Che - Diário de Um Louco', mas minha primeira impressão foi de que Soderbergh quis ser isento, jornalisticamente, tanto que as melhores cenas da primeira parte, para mim, são as de Nova York, quando ele vai discursar na ONU. O Che é recebido por uma socialite de esquerda e todo aquele beautiful people - a esquerda chique, os intelectuais - confraterniza e faz da revolução uma festa (mas ela não é uma festa e a verdadeira revolução passaria toda aquela gente pelas armas, ou não?) Jogo essas idéias, mas não é nada conclusivo. Volto hoje para São Paulo, daqui a pouco. Quero (re)ver correndo 'Che - Diário de Um Louco'. Não sei se conseguirei fazê-lo ainda hoje nem amanhã, mas tão logo o faça voltarei ao assunto, prometo.

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