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Uma geléia geral a partir do cinema

Com as estrelas, no Grand Rex

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

PARIS - Cheguei aqui anteontem à noite, esfomeado e cansado. Meu último dia em Roma havia sido puxado. Caminhei como nunca, e quem me conhece sabe que é uma coisa que não gosto de fazer. Cheguei em Paris, comi alguma coisa e desmaiei, não dormi. Ontem fui ao Le Nouveau Latina, no 4ème, que abriga o Festival do Cinema Brasileiro. Encontrei Leonardo Medeiros, que regressaria à noite para o Brasil. Ele veio para prestigiar a exibição de 'Feliz Natal', de Selton Melo, no dia anterior. O festival divide-se em duas partes. Primeiro, as ficções - 'Feliz Natal' foi a última. Agora, os documentários. Estava em vantagem sobre 'Leo', como é chamado, pois vi 'Budapeste' e ele ainda não assistiu à adaptação que Walter Carvalho fez do livro de Chico Buarque. Leonardo Medeiros falou bem mal da produção, não do trabalho com Walter Carvalho, que isso fique claro. Perguntei-lhe se manteria aquela fala nas entrevistas de lançamento do filme, que ocorrem na semana que vem, aí em São Paulo. Ele me disse que não deveria ter falado. É f... quando alguém cai matando sobre não importa quem para jornalista e depois diz que não é para publicar. Vou ter de voltar ao Leonardo, a 'Budepeste', ao Festival do Cinema Brasileiro de Paris. Agora quero falar da Paris que já estou vivendo. Fui ver ontem 'Star Trek', que estréia amanhã aí no Brasil. Não havia visto o filme de J.J. Abrams antes de viajar e aproveitei para vê-lo ontem, na estréia parisiense. Vi o filme do Grand Rex, que tem uma tela gigantesca, exibição digital. Antes, vi um monte de trailers, incluindo 'Vingança', do Johnny To, com Johnny Halliday, que estará em Cannes, e 'Transformers 2'. O cinema, por si só, é um espetáculo. A publicidade é sempre feita em torno das 'étoiles du Grand Rex', as estrelas do Grand Rex. Existem várias salas, mas a maior tem esse céu estrelado e a tela avança em direção à platéia, suspensa no ar em meio a relevos de castelos medievais e todo tipo de figura (de animais a cavaleiros medievais). Antes mesmo que a Entreprise surgisse na tela a sensação já era de estar numa jornada nas estrelas. A sala estava cheia de trekkers. Perto de onde estava sentaram-se um menino, seui pai e o avô. Três gerações de fãs. No final da primeira sessão (a que vi), o público aplaudiu. J.J. Abrams não era fã da série, o que lhe permitiu reinventá-la sem medo de estar sendo (in)fiel. Não sei como se chama no Brasil, mas poderia ser 'Star Trek - Origens', como 'Wolverine'. O filme trata do início da amizade do capitão Kirk e Spock, e ela é sinuosa. Os dois chocam-se de cara e Spock chega a abandonar Kirk sem rumo no espaço, mas aí o futuro capitão da Entreprise é salvo por... Não vou dizer para não dizer a graça dos vaivéns no tempo e no espaço. Só vou dizer que gostei bastante do filme. Saí do cinema pensando. Abrams diz que ama Spielberg. Poderia dizer que ama Kubrick. Num certo sentido, não via nada tão espetacular em termos de fantasia científica desde '2001', que é ciência ficção. J.J. Abrams nos atira 'dentro' da aventura futurista como nenhum outro diretor recente, que eu me lembre pelo menos (e isso inclui Spielberg e George Lucas). E a história de amizade é linda. Não sei, devo ser único no mundo. Havia amado 'A Janela', antes de sair do Brasil e o filme argentino é o reverso de 'Star Trek'. Uma história humana, minimalista, na qual nada é tudo. Aqui, pelo contrário, temos tudo e já ouço alguns coleguinhas dizendo que esse tudo é puro efeito, igual a nada. Tudo/nada, tão próximos. A história de amizade me tocou, como me tocou a dos irmãos, dois destinos ('Cronaca Familiare'), em 'Speed Racer'. Juro para vocês. Saí do cinema com vontade de (re)ver 'Star Trek' e, de preferência, ali, entre as estrelas do Grand Rex. Mas não dava. Tinha de correr para ver 'Still Walking'.

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