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Uma geléia geral a partir do cinema

Carlo Ponti

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Soube somente ontem da morte de Carlo Ponti, aos 94 anos, num hospital de Genebra. Ponti pertence a uma geração de grandes produtores italianos que surgiu no pós-neo-realismo - Dino de Laurentiis, Angelo Rizzoli, Franco Cristaldi e ele. Sozinho ou associado a Dino, Carlo Ponti ajudou a construir a história do movimento e seus desdobramentos, produzindo filmes de Rossellini e Fellini (A Estrada da Vida/La Strada). Mas o que fez dele o mais conhecido de todos os produtores foi a união com Sophia Loren. Por volta de 1960, eu mal sabia ler, e a revista O Cruzeiro, que pertencia ao grupo de Assis Chateaubriand, só tinha dois ou três assuntos, todos romances. O Brasil vivia o ciclo de crises que começou com o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, e a revista dava essas notícias, claro, mas o interesse era outro. Havia o romance da índia Diacuí com um sertanista (não me lembro o nome dele), que precisou vencer preconceitos, mas ela morreu de parto, o que foi uma tragédia. Houve outro romance, o do Xá do Irã, Mohammed Reza Pahlevi, e sua imperatriz, Soraya, que era estéril e ele teve de rejeitá-la, casando-se com outra mulher que lhe desse um herdeiro, para garantir a continuidade do trono. Soraya virou atriz (Tre Volte Donne, com três episódios, um assinado pelo Antonioni). Não transmitia nada e olhem que tinha os mais belos olhos (claros) que alguém pode imaginar. O curioso, ou o trágico, foi que a história mostrou que esse herdeiro, anos mais taerde, não seria necessário, pois o Xá foi deposto pelo apoio popular a Khomeini, que instalou no Irã o regime dos aiatolás. As voltas que o mundo dá! E havia, em O Cruzeiro, o romance de Sophia e Carlo Ponti, que não podiam se casar porque ele já era casado e na Itália não havia divórcio. Ponti fez de Sophia a grande estrela internacional em que ela se transformou e, embora tenha produzido grandes filmes - para ela, inclusive -, pode-se dizer também que, por amor, foi o assassino do neo-realismo. Carlo Ponti construiu o divismo de Sophia desviando De Sica, transformado em diretor oficial da 'estrela', do seu projeto inicial, expresso em filmes como Ladrões de Bicicletas e Umberto D. Basta conferir o começo de Duas Mulheres, que deu o Oscar a Sophia Loren e saiu em DVD da Versátil no País. Aqueles grandes planos da boca, dos olhos, do rosto da Loren são a negação do princípio neo-realista da interpretação do homem comum. Mas, enfim, Ponti foi um produtor importante, que tem a seu crédito grandes filmes - acho que o último foi Um Dia Especial, de Ettore Scola, com Sophia e Mastroianni. E houve o Ponti apaixonado. Casaram-se, Sophia e ele, no México, mas a união não foi reconhecida na Itália. Sei que adquiriram a nacionalidade francesa para viver, legalmente, como marido e mulher.

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