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Uma geléia geral a partir do cinema

Calungas

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

RECIFE - Acabo de voltar do Cine-Teatro Guararapes, onde ocorreu a festa de premiação do 11º Cine PE - Festival do Audiovisual. Como a solenidade foi transmitida ao vivo pelo Canal Brasil, você, cinéfilo, já deve saber que Cão sem Dono, de Beto Brant e Renato Ciasca, recebeu a Calunga de melhor filme. Mas não foi uma vitória, como se diz, acachapante. Cão sem Dono ganhou o prêmio de melhor atriz (Tainá Muller) e o júri parou por aí. A terceira Calunga do filme do Beto e do Renato foi como melhor filme da crítica. Houve, obviamente, um racha da comissão julgadora e ele não favoreceu o outro forte concorrente inédito - Não por Acaso, de Philippe Barcinski, que recebeu quatro prêmios (melhor ator, Leonardo Medeiros; melhor montagem, de Márcio Canella; melhor fotografia, de Pedro Farkas; e melhor atriz coadjuvante, Branca Messina). Na verdade, foram três prêmios e meio, porque o de melhor ator foi dividido com Sidney Santiago, de Os Doze Trabalhos, que talvez tenha sido o grande vencedor do Cine PE. Afinal, o filme de Ricardo Elias era um dos dos raros não inéditos da programação. Além de já ter sido premiado no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo, Os Doze Trabalhos já foi lançado em quase todo o Brasil, menos no Nordeste, o que o habilitava a participar da disputa, embora fosse considerado coisa velha para a crítica das regiões em que foi exibido. Os Doze Trabalhos recebeu os prêmios de direção (Ricardo Elias), melhor roteiro (Cláudio Yosida e Ricardo), melhor trilha (André Abujamra); e melhor ator coadjuvante (Flávio Bauraqui). Com o de melhor ator, foram quatro e meio Calungas. Mesmo rachado, o que não vazou, mas a própria premiação revela, o júri manifestou uma clara preferência por um tipo de cinema simples, minimalista, de baixo orçamento (é o que, de alguma forma, une Cão sem Dono e Os Doze Trabalhos). Philippe Barcinski foi penalizado por representar - deve ter sido o que pensaram os jurados - o cinemão brasileiro, feito com participação das Majors, no caso, a Fox. Eu confesso que não gostei da premiação. Gosto do filme do Ricardo, adoro o Sidney Santiago e o Flávio Bauraqui, mas torcia por Júlio Andrade e Luiz Carlos V. Coelho, que fazem o protagonista e seu pai em Cão sem Dono. Acho o prêmio da Tainá merecidíssimo, mas ela concorria praticamente sozinha. Embora seja, em princípio, contrário a dividir melhor filme e direção, meu sonho de consumo seria dar os prêmios aos filmes de Philippe Barcinski e Beto Brant e Renato Ciasca, que foram os mais estimulantes para mim. No limite, se tivesse de optar, votaria em Cão sem Dono. Mas, gente, que júri é esse que premia um filme como o melhor e acha que ele, tirando a atriz, não tem mais nada de tão bom, em relação aos demais concorrentes? Eu, hein?

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