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Uma geléia geral a partir do cinema

Busca Insaciável

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Falei aqui outro dia do Milos Forman e volto a ele. Acabo de assistir a Busca Insaciável no Telecine Cult e o filme não apenas se mantém como acho que ficou melhor. Há um aspecto visual datado, aquelas roupas esquisitas que estavam em moda no começo dos anos 70, mas fora isso Busca Insaciável continua impressionante. Na época, chegou a ser proibido pela censura do regime militar que, quando o liberou, foi com cortes. A história dos pais que procuram a filha desaparecida tem coisas geniais. Buck Henry vai parar na tal Sociedade pelos Pais de Filhos Desaparecidos. Entra o psicólogo que diz que não adianta reencontrar os filhos para perdê-los de novo. E ele propõe que os pais vivenciem, a experiência dos filhos para entendê-los. Todos aqueles pais burgueses, representantes de uma sociedade conservadora, fumam maconha. Os dois casais, os pais e os amigos, vão para casa, onde jogam uma partida de strip-pôquer. A filha, que voltou para casa, acorda e surpreende todo mundo meio nu na sala. Forman expatriou-se nos EUA, ao abandonar a Checoslováquia que havia sido invadida pelos soviéticos, pondo fim à primavera de Praga. Não precisou de mais de um filme para entender as transformações que ocorriam na sociedade americana. Aquele fumacê envolvendo os quadros com imagens dos pioneiros é uma idéia brilhante. Ver Busca Insaciável em qualquer outro dia seria uma experiência marcante, mas hoje, véspera de Natal, foi especial. Nada mais antinatalino, no sentido de que o Natal é uma festa da família, do que aquilo que Busca Insaciável expõe. O filme é de 1970/71. Pouco antes, haviam surgido A Primeira Noite de Um Homem, Sem Destino e Perdidos na Noite. Com o filme de Forman, os de Mike Nichols, Dennis Hopper e John Schlesinger nos dizem tudo sobre os EUA, o mundo e o cinema em transe daquela época. Quais seriam os filmes de hoje capazes de dar este testemunho para o futuro? Pode-se arriscar, mas a gente precisa do distanciamento. Quem viver os próximos 30 anos que faça esta revisão em 2036.

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