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Uma geléia geral a partir do cinema

Arte/Vida

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Por contingências industriais tivemos de fechar hoje três edições do Caderno 2 e a conseqüência é que faltou tempo para o blog. Deixo para falar amanhã das estréias, dos filmes de que gosto (Volver, do Almodóvar) e não gosto (Os Infiltrados, do Scorsese). Mas não posso deixar de assinalar que recebi à tarde um pacote da Imprensa Oficial do Estado, com dois lançamentos ocorridos durante a 30ª Mostra. Um é o livro do Leon Cakoff contando a história dos 30 anos do evento que criou em 1977, com o sugestivo título de Cinema Sem Fim. O outro é o álbum sobre Eva Wilma, intitulado Arte e Vida, com texto de Edla Van Steen. Nestes anos todos que moro em São Paulo, nunca me encontrei nem falei com Edla, mas ela faz parte do meu imaginário, como atriz do Khouri em Na Garganta do Diabo. E Edla é mãe do Ricardo Van Steen, talentoso diretor de Noel, o Poeta da Vila, filme de que gostei bastante - e, pelo visto, o público também, pois foi um dos quatro nacionais que ficaram entre os 14 selecionados pelos espectadores para concorrer ao troféu Bandeira Paulista. Até agora não sei explicar direito. Comecei a ver o filme do Ricardo no Festival do Rio. Estava achando meio anódino, bem no comecinho e aí veio aquela briga do Noel, interpretado pelo genial Rafael Raposo, com o Flávio Bauraqui, na Lapa, e o filme me apanhou de um jeito que não consigo entender. De repente eu me senti ali no meio dos dois, projetado naquele Noel de classe média, de boa família, tentando dar uma de malandro, naquele baixo mundo. A partir dali, viajei. Não li o livro da Edla. Folheei e me dei conta de quanto a Eva também faz parte da minha vida. Eu era guri, em Porto Alegre, quando via na TV, em preto-e-branco, Alô, Doçura. No começo dos anos 60 foram aqueles dois filmes que fizeram história - Cidade Ameaçada, do Roberto Farias, e São Paulo S.A., de Luiz Sérgio Person. Continuei folheando o livro, com suas belas fotos e encontro as imagens da Eva quando foi a Hollywood, para ser testada pelo Hitchcock para fazer o papel que terminou sendo de Karin Dor em Topázio. Não foi um grande Hitchcock, mas justamente as cenas da espiã cubana são maravilhosas, quando ela morre, filmada de cima, e o vestido vermelho se esparrama como mancha de sangue no piso quadriculado que representa o tabuleiro de xadrez no qual as superpotências fazem seu jogo mortal. Não consigo imaginar qual teria sido o impacto da participação de Eva Wilma em Topázio, se ela tivesse ganhado o papel. A fase mais recente de sua carreira divide-se entre teatro e TV, com grandes êxitos em novelas. Volto ao começo do livro e olho de novo as fotos dela, quando jovem. Linda, morena. Me vem à lembrança a Tônia Carrero, loira, linda na capa de outro livro, o da Vera Cruz. Quando encontrei com Tônia no set de Chega de Saudade, o novo filme da Laís Bodanzki, ela me disse que também foi chamada a Hollywood, mas não quis saber. Disse que foi a melhor coisa que fez. Tirando a Carmen Miranda, com sua persona tão específica, nenhuma brasileira fez sucesso em Hollywood. É verdade, mas teria sido curioso saber até onde Tônia e Eva chegariam.

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