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Uma geléia geral a partir do cinema

Árido movies

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

É a mesma coisa, mas muito diferente e é melhor. Essa definição, até certo ponto bizarra, me foi feita por uma pessoa em quem confio (temos participado de júris e encontros e há uma afinidade, mesmo quando parecemos desafinados) sobre Baixio das Bestas, o novo filme de Cláudio Assis, que acaba de vencer (ontem à noite) o Festival de Brasília. Lá vou eu falar de novo da minha ambivalência, agora em relação ao cinema pernambucano, no qual não sei se devo incluir o Marcelo Gomes, de Cinema, Aspirinas e Urubus, embora ele seja de lá. O cinema do Recife é Lírio Ferreira, Cláudio Assis, Paulo Caldas. Não sou louco de não reconhecer que possui uma vitalidade muito grande e uma ousadia salutar, mas ainda não gostei, para valer, de nenhum filme de lá. Baile Perfumado tem originalidade, musicalidade, mas me incomodam as regras mínimas de narração do Lírio, aquela mania de atravancar a imagem com ângulos exóticos, filmando inviesado, por meio de objetos (uma coisa que eu acho que vem da mítica passagem de Orson Welles pelo Recife, que foi tema do curta That's a Lero Lero e influencia tanto os novos diretores pernambucanos - influenciava bem mais antes). Gostei de Árido Movie, que achei bem filmado, bem fotografado (salve, Murilo Salles) e, principalmente, muito bem montado (por Vânia Debs, a 'mãe' de todos esses meninos talentosos), mas não gosto do final, com aquele cosmopolitismo que me parece que não fecha com o que vi antes. Já tentei até imaginar o filme com uma inversão - começando por aquele fim. Acho que ficaria melhor. Pelo contrário, gosto justamente do fim de Amarelo Manga, o filme anterior de Cláudio Assis, que também já havia sido superpremiado em Brasília. Um monte de coisa me incomoda e até desagrada no Amarelo (o excesso de grotesco, que beira o desrespeito; o viado bem viadinho de Matheus Nachtergaele), mas aquele passeio da câmera pelos rostos anônimos do Recife, todos, para mim, muito mais fortes do que quaisquer dos personagens que vi antes (e que me convidam a construir uma história para eles) me deixam sem fala. Para resumir - estou louco para ver Baixio das Bestas. É a mesma coisa, tomara que seja diferente e seja melhor.

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