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Uma geléia geral a partir do cinema

A mamãe que sabia tudo

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Mas ela ainda estava viva? Esta, provavelmente, é a primeira pergunta que os leitores farão, ao saber que Jane Wyatt morreu. Os leitores que a conheciam, bem entendido, pois Jane estava já com 96 anos e há muito tempo não fazia nada, nem cinema nem TV. Mas quem viveu os primórdios da TV no Brasil, no começo dos anos 60, e principalmente quem era garoto, vai se lembrar com saudade da atriz que fazia a mulher de Robert Young na série Papai Sabe Tudo (que nos EUA foi ao ar entre 1954 e 1960). A personagem se chamava Margaret Anderson e era uma representação da perfeição - a esposa e a mãe ideais. Naturalmente que o mundo era outro, Hollywood ainda não havia desmontado o sonho americano e os anos 60 estavam recém começando para mudar tudo (sexo e comportamento). Neste quadro, Papai Sabe Tudo era, por assim dizer, uma fantasia de outra época, quando tudo e todos éramos mais inocentes. Não sou saudosista, mas confesso que, às vezes, me ocorre lembrar das séries que via, tipo Papai Sabe Tudo e Lanceiros de Bengala (que eu adorava)e também de minhas primeiras leituras, quando era um ávido consumidor da Coleção Terramarear, da Editora Melhoramentos, lendo todos os livros de Tarzan, do Edgar Rice Burroughs. Nunca me conformei que o cinema não fez justiça à riqueza de imaginação do autor, com suas aventuras no centro da Terra, no Império Romano ou em Camelot. Naquele tempo, não havia internet, comunicação instantânea, todas essas coisas, e era possível acreditar em descendentes de tribunos romanos ou de cavaleiros da Távola Redonda perdidos na África. Eu devia ser débil mental, porque acreditava ou então sabia que era ficção e gostava porque aquilo preenchia uma necessidade que tinha de fantasia. Tudo isso me veio agora por causa de Jane Wyatt. Ela trabalhou com diretores importantes, como Frank Capra (em Horizonte Perdido) e Elia Kazan (Boomerang, lançado no Brasil como O Justiceiro). Já mais velha, foi a mãe de Spock na série Jornada nas Estrelas e no quarto filme, dirigido por Leonard Nimoy, A Volta para a Terra. Mas a lembrança que ficou foi a da mãe de Papai Sabe Tudo. Estou aqui escrevendo e fazendo a minha viagem proustiana. Jane está sendo a minha madeleine, em busca do tempo perdido. Com ela me veio à lembrança também a Dorothy MacGuire, de filmes como Sublime Tentação, de William Wyler, e A Cidade dos Robinsons, de Ken Annakin (que me fazia vibrar). Eram as mãezonas de Hollywood, humanas, carinhosas, compreensivas. Naturalmente que havia as gostosas. BB. MM, Mamie Van Doren (essa eu tirei do baú), mas a Jane era especial.

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