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Uma geléia geral a partir do cinema

A festa é nossa!

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Foram, talvez, as primeiras pessoas que conheci em São Paulo, com as quais tive de tratar profissionalmente, ao aqui chegar. O André Sturm, que acabara de fundar a distribuidora Pandora. A Sheila, que fazia a assessoria da Warner e hoje está na Imprensa Oficial. Tenho um carinho muito grande por eles porque, de cara, foram muito generosos comigo, que estava chegando, tomando pé da cidade, do meio de cinema. Temo ser injusto com o André. Nos últimos tempos, sempre que o encontro, cobro o que me parece seu progressivo afastamento da distribuidora, entregue ao zelo do Leo. O André cinéfilo, distribuidor, exibidor, cineasta está cada vez mais ligado à política, do cinema inclusive, na Fiesp. Mas eu sinto falta do seu entusiasmo, quando nos encontrávamos em festivais internacionais - Cannes, principalmente -, quando ele anunciava um novo filme ou um clássico cujos direitos conseguira comprar, quando conseguia as entrevistas com diretores que eu lhe pedia, especialmente os que militam na produção indie dos EUA. Tudo isso porque recebi ontem um e-mail que vai fazer a festa dos cinéfilos paulistanos nos próximos dias. A Pandora está completando 20 anos. E, para assinalar a data redonda, vai exibir 20 filmes que marcaram sua história. As exibições vão ocorrer no HSBC Belas Artes e, durante quatro semanas, à razão de um por dia - no final da promoção, oito filmes serão reprisados, imagino que os mais vistos -, será possível (re)ver, na tela ampla do cinema, filmes como 'Não Amarás', 'Paisagem na Neblina', 'Quanto Mais Quente Melhor', 'Estação Doçura', 'Vozes Distantes', 'Beijo 2348/72', 'Maus Hábitos', 'Morte em Veneza', 'Martha', 'Exótica', 'Noites de Cabíria', 'Paixão Selvagem' (o 'Je t'Aime, Moi non Plus'), 'Felicidade', 'Lúcia e o Sexo', 'Amores Expressos', 'Concorrência Desleal', 'O Invasor', 'O Closet', 'As Bicicletas de Belleville' e 'Elsa e Fred'. Kieslowski, Angelopoulos, Wilder, Terence Davies, Almodóvar, Visconti, Fassbinder, |Atom Egoyam, Fellini, Todd Solondz, Wong Kar-wai, Beto Brant, entre outros. Só de escrever aqui os títulos dos filmes e os nomes do diretores já fiquei com vontade de (re)ver vários - o Angelopoulos, o Davies, o Almodóvar e o 'Beijo', tão bonito, de Walter Rogério, com Chiquinho Brandão, numa das maiores interpretações da história do cinema brasileiro. O cinema do País estava morto, não existia, quando surgiu, quase como guerrilha o 'Beijo'. Não sei se, em outras circunstâncias, mais 'normais', o filme me teria marcado tanto. Além de quase não haver produção brasileira, na época - 1994 -, o filme ainda estreou três anos após a morte prematura do ator. O cinema eternizava Chiquinho Brandão e o próprio cinema brtasileiro ressurgia... Ainda ontem, a caminho do debate na Reserva Cultural, estávamos no carro meu editor, Dib Carneiro Neto, mais Luiz Zanin Oricchio, João Luís Sampaio e eu. Dib sempre dá um jeito de tirar sarro da 'Retomada' do cinema brasileiro, que não acaba nunca. Desta vez foi porque, na capa de hoje com o making of de 'High School Musical - O Desafio', cito os excepcionais números que a Total Entertainment logrou neste (meio) ano, os oito milhões de espectadores acumulados para 'Se Eu Fosse Você 2' e 'Divã', sendo que o primeiro bateu o recorde de público da... Retomada! Como disse rindo o João, a simples citação à Retomada não basta e precisa vir acompanhada de um aposto - o período do cinema brasileiro que começa com 'Carlota Joaquina', em 1995. Divago por causa do beijo de Chiquinho Brandão e Maitê Proença, que nunca foi mais bela do que como operária, malgrado a sofisticação das heroínas noir que interpretou para Guilherme de Almeida Prado. Espero que vocês tenham ficado 'nos cascos', à espera de sexta. 'Vozes Distantes' vai abrir a programação, teremos 'Paisagem na Neblina', a Orestíade de Angelopoulos, no sábado e, no domingo, 'As Bicicletas de Belleville'. 'O Beijo' vai ser só na segunda semana, de 26 de junho a 2 de julho. Os 20 anos são da Pandora. A festa será nossa.

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