O contrabaixista Zéli Silva, que conta com outros três discos instrumentais, chega com um álbum de canções Agora é Sempre. Há nele bons exemplos dos dois lados: de quando o amor incondicional de uma canção fala mais alto e de quando ela perde para algum grau a mais de exibicionismo. Ao final, uma queda de braço entre a "música para músicos" e a "canção para todos" o faz um grande disco.
As más notícias são menores. O Canto do Vento e Quase em Segredo, as duas de Zéli com Luis Felipe Gama, mostram a bela voz de Ana Luiza sendo enterrada em algum momento pela massa de instrumentos do arranjo. Ou um escorregão na mixagem ou uma improvável intenção de se valorizar mais o arranjo colocando-o à frente da voz. O fenômeno da diluição volta a acontecer em momentos pontuais, em que as convenções e a profusão de arranjos poderiam passar por uma lipoaspiração.
Mas as composições de Zéli têm força e as intérpretes que ele escolheu equilibram esse jogo. Ao lado dos músicos, elas passam a pensar como eles. Vanessa Moreno, um dos timbres mais belos dentre os novos, não se intimida diante dos longos caminhos da incrível melodia de Sabe Lá. Com menos recursos, Lívia Nestrovski segura o clima jazz noturno de Noite Adentro (de Zéli com Taciana Barros).
Filó Machado, um homem que harmoniza como se estivesse respirando, canta Sambei com sua veia livre e hiperativa. Livia volta a se destacar com Sambita, de acento caribenho que nada tem de samba. E a maré baixa e tudo vira canção quando se ouve Com Xote Dá, de Zéli e Filipe Moreau. Um exemplo de quando a simplicidade nocauteia qualquer virtuosismo.