A violinista japonesa Midori Goto surgiu no cenário musical no final dos anos 1970, quando, ainda menina, impressionava pela técnica exuberante. O tempo potencializou a musicalidade de suas interpretações, registradas em uma discografia preciosa. Mas, aos 43 anos, ela hoje não se limita ao trabalho como solista à frente de algumas das principais orquestras do mundo: a vontade de "levar a música às vidas das pessoas", a partir do conceito de "engajamento comunitário", a fez criar o Orchestra Residencies Program, no qual ela viaja o mundo trabalhando com músicos de orquestras jovens.
Foi nesse contexto que ela desembarcou esta semana em Salvador, para atuar com os músicos do Neojiba (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia). Midori visitou núcleos do projeto no bairro de Itapagipe e no município de Simões Filho. No domingo, apresenta-se ao lado da Orquestra Juvenil da Bahia, regida por Ricardo Castro e Pino Onnis, e da Orquestra de Câmara do Neojiba. E, na segunda, se junta a membros da Orquestra Juvenil, a Castro e à violinista coreana Ga Hyun Cho para nova apresentação. No programa, obras concertantes e música de câmara.
"A ideia original por trás do Orchestra Residencies Program era dar suporte a orquestras jovens nos EUA, em especial aos grupos de comunidades menores, onde há menor acesso à música sinfônica", ela explica. O projeto, no entanto, cresceu, e hoje ela realiza trabalhos também no Japão e em países do Sudeste Asiático. "Cada local, cada projeto, cada visita é diferente. No fundo, há muitas coisas a serem experimentadas em conjunto. Mas há uma constante, que é a presença de pessoas dedicadas a dar suporte às crianças, pais, professores. Eles tentam dar a elas as melhores oportunidades. E veem a música como um tecido a unir todos", continua.
Para Midori, o Neojiba pareceu um projeto "grande e bem sucedido, bem estabelecido, inspirador". E ela chama atenção para o fato de que, hoje, mudou a percepção do mundo da música com relação a projetos como esse. "O que percebo é que o engajamento comunitário, que vai além da questão apenas social, finalmente tornou-se algo estabelecido. Isso me deixa feliz. É claro que há espaço para crescimento. Mas, quando comecei com esse tipo de trabalho com jovens, há 25 anos, o engajamento comunitário era bastante impopular no mundo da música clássica. Agora, ele é importante, considerado, respeitado, e isso é maravilhoso. E para o artista também ficou mais fácil. Se um músico quer trabalhar com crianças, com uma comunidade, hoje há plataformas para isso. Há maneira de estabelcer conexões, possibilitar esses contatos. E defender a ideia de levar a música à vida das pessoas."