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Música clássica... E um pouco de tudo

Opinião|Sobre Vivica, por Lauro Machado Coelho

O crítico do "Caderno 2" Lauro Machado Coelho esteve na apresentação da meio-soprano Vivica Genaux. Mandou-me, hoje, o seguinte recado: "João, uma indisposição inesperada me forçou a sair da apresentação de Vivica Genaux, na terça-feira, no final da primeira parte. Não posso comentar, para o jornal, um concerto de que só vi a metade. Mas para o seu blog, eu posso, informalmente, dizer quais foram as minhas impressões - ressalvando que elas poderiam ter sido modificadas pela segunda parte." Aqui estão, portanto, os comentários que ele me enviou, com o prazer de hospedar por aqui as opiniões do grande colega e amigo.

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Foto do author João Luiz Sampaio
Atualização:

O grande atrativo, é claro, foi a participação de Vivica Genaux. Sem ter um timbre exatamente bonito - algumas de suas inflexões têm um colorido bastante peculiar e não de todo agradáveis - ela é uma cantora muito musical e com uma técnica extremamente segura. Dominou com muita facilidade as velozes roulades de "Sta nell'ircana", da "Alcina" ou de "Dopo notte atra e funesta", da "Ariodante", com uma regularidade de emissão que deixou a linha de ornamentação muito clara. Tem um legato bastante elegante - e, por sinal, numa ária lenta, como "Cara speme", do "Giulio Cesare in Egitto", a sua irregularidade de timbre torna-se bem menos perceptível. Além do mais, é uma cantora jovem, expressiva - parece que com boa presença no palco (embora não seja muito fácil avaliar isso em um recital de árias idoladas) e terá certamente um belo amadurecimento pela frente. Lamentei não ter podido ouvir "Di quell'acciaro al lampo", do "Solimano" de J. A. Hasse, pois seria interessante comparar a sua leitura desse autor - cujas ópera são muito bonitas - com as de Haendel. Quanto ao Concerto Köln, o seu desempenho foi muito irregular. A execução da primeira suíte da "Música Aquática" foi, para ser muito sincero, totalmente "aguada". O som deles é muito adequado: as cordas sem vibrato, a afinação mais aguda dos sopros (com madeiras nitidamente melhores do que os metais). Mas o que faltou foi energia. Foi uma leitura bastante frouxa (o que foi estranho porque, na primeira ária de Haendel, eles tocaram com muito maior convicção). A interpretação do "Concerto nº 23 RV. 407", para violoncelo, de Vivaldi, começou bem... mas terminou mal. Werner Matzke é um bom instrumentista e foi bastante feliz no segundo movimento, "Largo e sempre piano", que é muito original com a sua longa linha legato, contra um ostinato das cordas agudas. Mas cometeu, a meu ver, um erro estilístico, ao não perceber - ou não levar em conta - que o concerto tem uma estrutura simétrica: allegro - largo - allegro. Por querer fazer uma demonstração de virtuosismo, tocou o finale em um andamento presto que tornou o fraseado emboladíssimo.

Opinião por João Luiz Sampaio

É jornalista e crítico musical, autor de "Ópera à Brasileira", "Antônio Meneses: Arquitetura da Emoção" e "Guiomar Novas do Brasil", entre outros livros; foi editor - assistente dos suplementos "Cultura" e "Sabático" e do "Caderno 2"

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