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Opinião|Morre o maestro Lorin Maazel, um dos gigantes da regência no século 20

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Morreu na manhã deste domingo, aos 84 anos, o norte-americano Lorin Maazel, um dos principais maestros do século 20. Segundo familiares, ele foi vítima de complicações de uma pneumonia. Nos últimos meses, no entanto, ele vinha cancelando compromissos em todo o mundo, entre os quais estavam concertos no Rio com a Orquestra Sinfônica Brasileira, e pedira demissão do posto de diretor da Filarmônica de Munique, cargo que assumiu no ano passado.

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Sua última aparição pública foi no festival criado por ele Castleton, Virgínia, nos Estados Unidos - ele desistiu de reger uma apresentação de Madame Butterfly mas dirigiu-se ao público antes do espetáculo, falando sobre a importância do repertório operístico. De acordo com depoimento dado por Nancy Gustafson, diretora executiva do festival, ao jornal Washington Post, Maazel sofria de uma doença inexplicável que se seguiu a uma espécie de colapso motivado pelo cansaço causado por um número grande de viagens entre a Ásia, Europa e Estados Unidos no primeiro semestre.

Maazel nasceu em uma família musical - seu pai era ator e professor de canto; sua mãe fundou a Sinfônica Jovem de Pittsburgh; e seu avô atuou como violinista na orquestra do Metropolitan Opera, de Nova York. As primeiras aulas de regência o maestro teve com sete anos e, aos oito, regeu uma orquestra pela primeira vez; quatro anos depois, já era regente convidado da prestigiada Sinfônica da NBC. No começo dos anos 1950, com 23 anos, tornou-se o primeiro maestro americano a trabalhar no Festival de Bayreuth, na Alemanha; de 1965 a 1971, dirigiu a Deutsche Oper de Berlim e, de 1964 a 1975, foi diretor da Sinfônica da Rádio da cidade.

Nos anos 1970, assumiu a Orquestra de Cleveland e a Orquestra Nacional da França; pouco depois, passou a dirigir a Ópera de Viena, a Sinfönica de Pittsburgh e a Sinfônica da Rádio da Baviera. A lista de orquestras e teatros é vasta - e serve, antes de mais nada, para exemplificar a importância que Maazel acabou conquistando no cenário, com interpretações de um repertório bastante amplo e uma mente musical excepcional, capaz de leituras que ofereciam olhares completamente novos para o grande repertório. "Ele é claramente um homem brilhante, talvez brilhante demais para se contentar com a recriação sem fim das mesmas obras. Ele é também um homem frio - e talvez essa frieza coloque uma camada de gelo sobre suas interpretações", escreveu em 1979 o crítico John Rockwell, do New York Times. "O problema dessa linha de raciocínio é que não leva em consideração o fato de que, quando ele estava em 'modo ligado', ele consegue criar interpretações que estão entre as mais inpiradas da história da música em nosso tempo", completou.

Sua carreira não esteve livre de polêmicas. Após a morte de Herbert Von Karajan, em 1989, esperava assumir seu posto à frente da Filarmônica de Berlim - e, quando o nome de Claudio Abbado foi anunciado, ele se recusou a voltar a reger o grupo. Em 2008, como diretor da Filarmônica de Nova York, resolveu levar a orquestra para uma apresentação na Coreia do Norte, sendo criticado por flertar com o regime de Kim Jong-il.

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Ao longo dos anos, o maestro manteve contato com a cena musical brasileira. Além de ter visitado o país à frente de orquestras estrnageiras, como a Sinfônica da Rádio da Baviera e a Filarmônica de Viena, em 2002 promoveu, em parceria com a Orquestra Experimental de Repertório, no Municipal de São Paulo, um concurso de regência - do qual fez parte, como candidato, um então desconhecido maestro venezuelano chamado Gustavo Dudamel. Dez anos mais tarde, regeu um ciclo dedicado às sinfonias de Beethoven com a Orquestra Sinfônica Brasileira, no Rio.

Opinião por João Luiz Sampaio

É jornalista e crítico musical, autor de "Ópera à Brasileira", "Antônio Meneses: Arquitetura da Emoção" e "Guiomar Novas do Brasil", entre outros livros; foi editor - assistente dos suplementos "Cultura" e "Sabático" e do "Caderno 2"

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