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Todas as famílias felizes são iguais

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Por Redação
Atualização:

Publicar textos sobre a minha família não é nenhuma novidade para quem frequenta esse blog. A novidade é que desta vez publico o texto de um primo 'inédito' por aqui. Lívio Oliveira é poeta e tem um blog bem legal (Blog de Lívio Oliveira), onde ele escreve sobre a cultura brasileira, com ênfase na cena cultural de Natal, onde mora.

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Recentemente, recebi por e-mail um texto dele sobre nosso avô, João Caetano de Oliveira. Achei o texto superbonito, emocionante, e me identifiquei bastante com ele até porque também não conheci meu avô. É um texto bastante pessoal, uma pequena homenagem que faço por meio das palavras do meu primo Lívio. Espero que você goste do tema já que, no fundo, todas as famílias são iguais. Quer dizer, como disse Tolstói, 'todas as famílias felizes são iguais; as infelizes o são cada uma à sua maneira'.

Só para deixar registrado, a nossa é a primeira opção.

Lívio, valeu pelo texto.

Abs, F.

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Carta a um velho amigo que não vi

Natal, 2 de abril de 2010.

Meu avô João Caetano,

Desculpe-me pelo imenso atraso. Já se passaram - eu sei - 40 anos. Mas, é que somente agora atinei para o fato de que precisava lhe mandar minhas impressões e aquilo que tenho sentido acerca dessa longa aventura sobre a Terra, lugar estranho e curiosamente sedutor, solo por onde temos que andar longa e arriscada travessia. Para onde? Ainda não sei. Certamente onde está já tenha sabido que destino tomamos. Talvez aí, onde você está - você, não, que o senhor não é dado a essas intimidades -, onde o senhor está, possa compreender melhor e com mais conhecimento de causa as minhas preocupações, minhas dores, meus sofrimentos. Também deverá saber melhor avaliar as minhas alegrias, realizações, metas por atingir...

É, meu avô, sei que nada é fácil e por isso tenho lutado como ninguém. Às vezes esmoreço. Às vezes me fragilizo. Mas, quando a vida menos espera, fortaleço-me de um jeito que pareço um leão. Por falar nisso, esse é meu signo: Leão. Nascido em agosto de 1969. Lembra daquele mês de agosto em que eu nasci, aqui nessa ensolarada cidade chamada Natal? Pois é...soube que o senhor se preparava para vir me visitar, vindo de Parelhas, numa viagenzinha de um pouco mais que 100 quilômetros. Mas, aí, antes que isso acontecesse, decidiu fazer uma viagem mais longa, bem mais longa. E eu que pensava que Natal ficava a caminho do céu...

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Papai me disse uma vez, se não me engano, que o senhor não acreditava muito que o homem tinha chegado à lua. Logo o senhor, João Caetano? Logo o senhor, que foi diretinho pro céu??!!

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Não quero, meu avô, tomar o seu tempo, não. Por sinal, não sei nem se por aí existe esse tal de tempo. Taí um troço que me deixa perturbado. Às vezes, não consigo entender direito o sentido do relógio. Não é nada fácil! E olha que, como advogado público, tenho que ficar de olho nos prazos, todo santíssimo dia.

Acredito, meu avô, que o senhor gostaria de nos ver hoje. Talvez, até esteja vendo. Papai e mamãe estão fortes e vigorosos e vão completar aniversário de casamento. Vovô, olha que é mais tempo do que eu tenho de vida, eh!eh!eh! Óbvio, né? E os meus irmãos estão todos bem. Jaime Júnior fez uma cirurgia no umbigo, dia desses. Morreu de medo, mas deu tudo certo. Não fugiu. E Janair tá lá na Europa, no Velho Mundo (no início deste ano estive, com Alciléa, por aqueles lados frios) onde morou meu queridíssimo Tio Gabriel, que está aí por cima, junto com Vovó Clotilde, Tia Eunice, Tio Zé, Tio Adelson, Tia Anna. A hora do almoço de vocês deve ser muito animada. Não é? Sim, Jaiana está decidindo se vai trabalhar em Angicos, terra de Aluísio Alves. E eu e Jansênio não nos temos visto mais, meu avô. Coisas da vida...

Também acho que o senhor gostaria de prosear com o genro e as noras de papai e mamãe. Ele gosta muito de Caicó e é do seu Seridó e todas elas (as noras Alciléa, Anita, Naury e Sânzia) são mulheres corretas e trabalhadoras. Operosas e dedicadas. Às vezes falam pelos cotovelos. Como toda mulher, né, meu avô? A minha se chama Alciléa, que tem um nome que junta o do pai e da mãe (naquele tempo, vocês gostavam de fazer isso, né?). Ela tem me estendido a mão e me ajudado a ir pra frente. Sem ela, a coisa ficaria muito mais dura. Muito mais dura! Estou aprendendo, dia-a-dia, a amá-la mais e melhor.

Agora, meu avô, o senhor precisa saber mesmo é dos seus bisnetos. Vou dizer todos os nomes pela ordem decrescente de idade: Kelvin, Brenda, Gabriel, Bruno, Daniela, Carolina, Jaiminho, Beatriz, Larissa. Gente bonita, saudável e animada que só! A meninada é divertidíssima e é tudo de boa índole. Precisa ver quando está todo mundo em Tabatinga, terra do Barão Jaime e da Baronesa Ana Maria. Ah! E são estudiosos. Todos são. Assim como o senhor gosta. O senhor que, quando estava por estas bandas de cá, esforçou-se ao máximo para que os filhos estudassem e trabalhassem. A sua visão - mesmo no chão tórrido e esturricado do sertão seridoense - era de águia, num voo sempre altaneiro. Conseguiu colocar gente pra estudar até no Rio de Janeiro (cidade pela qual me apaixonei), como foi o caso de Tio Adones, que encontrou logo Tia Helô. Sim, tenho estado com ele, vez ou outra, e hoje ele mora em São Paulo, onde estão seus filhos Luís Felipe e Luís Fernando (envolvidos com música e jornalismo de primeira) e o Pedro Jorge, filho de Tio Adelson, que toca na Orquestra Sinfônica de São Paulo e já esteve até na Filarmônica de Berlim, a melhor orquestra do mundo. Não é fraco, não! Parece-me, vovô, que a Adriana também está lá por São Paulo ou nos "States". Todos bem. Todos bem e com sucesso.

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Na Paraíba e em Pernambuco tem muita gente sua. Muita gente nossa. Fábio, vez por outra, me manda um e-mail. É um cara bem-humorado. A gente conversa. O cara é um flamenguista doente! Mas, o Flamengo merece, mesmo, né? Fabíola e Gustavo, primos queridos, moram, também, em João Pessoa. As prezadíssimas tias Arlete e Elzenita vão aproveitando a vida, da melhor forma, em meio a viagens e fazendo o bem. Ana Luiza mora e trabalha no Recife das velhas pontes. Luciana deu um passinho além na geografia e está nos Estados Unidos, morando com seu marido americano e filharada. Chique, né? E não custa afirmar que toda a prole de meus primos e irmãos tem nos dado imensas felicidades!

Vovô, não estranhe se eu não perguntar sobre como tem passado por aí. É que eu sei que as coisas no lugar onde está são, certamente, muito boas. Afinal, o senhor merece, por toda a luta que travou por aqui e pelas vitórias que obteve. E, hoje, deve estar satisfeito de ver as coisas em ordem entre nós, sua família, seu centro.

Olhe, vovô Caetano! Mandamos, também, um beijo para os meus avós maternos Miguel e Senhora. Já deve ter tomado um cafezinho com eles por aí, né?

Meu avô João Caetano (por sinal, sabe que é o nome de um teatro lá no Rio?), acredito que lhe enviarei outras missivas nos próximos dias, nos próximos anos, mostrando o que estou aprendendo e como estou desempenhando meus esforços diante da vida. A vida é, mesmo, um contínuo e frenético aprendizado. E sei que o senhor vai me ajudando. Me ajuda mesmo, vai!

Por aqui, vou me despedindo porque o sábado já raiou e tenho um monte de obrigações para fazer. Principalmente, estudar. E sei que o senhor respeita muito esse tipo de tarefa.

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Um beijo, meu avô.

Peço a bênção!

De seu neto: Lívio

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