Estive no Rio de Janeiro semana passada para o lançamento do meu livro 'Bacana Bacana' na belíssima livraria da Travessa, no Leblon. Não ia ao Rio há alguns anos, tempo demais até para mim, o mais urbanoide dos paulistanos.
Conheci bem o Rio nos anos 90, época em que cheguei a morar no mais carioca dos bairros cariocas: Copacabana. Desta vez nem fui à Copa; fiquei mesmo no Leblon, o bairro mais legal da cidade. E tive a sorte de contar com bons anfitriões.
Neo e Jill, Bia e Guto, todos carioquíssimos - apesar de nenhum deles ter nascido no Rio. Neo e Guto são mineiros, Jill é americana, Bia é curitibana. Mas todos amam a cidade como se tivessem respirado ali suas primeiras moléculas de oxigênio. Estar carioca se torna ser carioca com bastante rapidez. Carioca é um estado de espírito, não um endereço de maternidade.
O Rio está longe de ser perfeito, vamos deixar claro. Vamos por hora esquecer os problemas da cidade, que serão abordados no futuro próximo por este blog. O Rio é a mais cosmopolita das cidades brasileiras. Das diferenças entre cariocas e paulistas, uma é gritante: em São Paulo, o mineiro tem orgulho de ser mineiro. No Rio, ele se considera carioca. O Rio também é cosmopolita porque os estrangeiros estão lá porque desejam, e não porque são obrigados por seus negócios - o que é o caso dos estrangeiros que vem a São Paulo.
Quando eu era mais novo, adorava criticar o Rio e estimulava a rixa cariocas X paulistas. Hoje dou risada: cidades não são entidades comparáveis. Mesmo assim, é impossível para um paulista não tentar generalizar o Rio de alguma forma. 'Lá no Rio é assim, lá no Rio é assado', dizemos, como se as diferenças fossem tão óbvias que transformassem qualquer turista de fim de semana em antropólogo. O Rio não é assim, o Rio não é assado. O Rio é o Rio.
Sou viajado, consigo compreender uma cidade com certa rapidez. Mas confesso que as qualidades (e defeitos) do Rio e de seus moradores ainda me surpreendem. A única característica previsível nos cariocas é a sua informalidade.
Em São Paulo, o importante é ter dinheiro. Dinheiro para esbanjar em carros importados, baladas e luxos que compensem, psicologicamente, o excesso de trabalho e a vida estressante. No Rio, o bem mais valioso é o tempo. Tempo para dar um mergulho no final da tarde, tempo para correr na praia pela manhã, tempo para passear com os cães pelo calçadão. E não há dúvida de que o tempo é mais democrático que o dinheiro - e menos repressor. O tempo não tem idade, não tem sexo, não é do rico nem do pobre. O tempo é de quem sabe usá-lo. E ninguém sabe usá-lo melhor do que os cariocas - não importa onde eles tenham nascido.