Rainbow in the dark: Dio foi para heaven ou hell?

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Por Redação
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Para quem é de fora, é tudo a mesma coisa: barulho. Mas quem conhece heavy metal a fundo sabe que o estilo é bastante segmentado, e que as aparentemente pequenas diferenças estilísticas entre as bandas dividem os fãs tanto quanto os unem. O cara que ama Iron Maiden odeia Slayer; a garota que acha o Bon Jovi lindo passa mal quando ouve Sepultura.

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Pelo menos um artista, no entanto, sempre foi unanimidade entre todos. É o vocalista Ronnie James Dio, conhecido simplesmente - e sem o egocentrismo que o nome pode invocar - , como Dio, 'deus' em italiano. E não apenas em italiano, mas em todas as línguas, Dio foi um deus do metal.

Os roqueiros hoje estão de preto, e isso não é um pleonasmo, muito menos uma figura de linguagem. Dio morreu ontem aos 67 anos de câncer. Há exatamente um ano atrás, nesse mesmo dia, ele fazia seu último show no Brasil, no Credicard Hall, à frente do Heaven & Hell (Black Sabbath, para os íntimos, impedido de usar o nome verdadeiro graças ao poder de Sharon Osbourne, mulher de Ozzy). Eu estava lá, claro, e o pequeno grande vocalista foi sensacional como sempre. E como nunca mais será.

Todo mundo sempre gostou do Dio, e não apenas porque ele era vocalista do Rainbow, de Ritchie Blackmore, ou do Black Sabbath, duas das bandas mais importantes e influentes do estilo. Dio cantava com a alma, com o coração. Quem conhece um pouco de rock sabe que se Ozzy Osbourne é chamado de 'Prince of Darkness' (Príncipe da Escuridão), Dio sempre foi o Rei.

Na verdade, eu não saberia dizer por que Dio é tão amado entre os fãs de rock pesado. Se fosse tentar adivinhar, diria que é porque ele combinava uma credibilidade artística total e um talento vocal bastante incomum. A voz do cara era demais, resumindo. Era, não. É. A única coisa que importa sobre os grandes artistas é que eles são imortais, não importa se são de heavy metal, samba ou jazz.

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Dio ficou conhecido também porque há uma certa ambigüidade em sua voz, uma versatilidade que lhe permitia variar dinamicamente entre o sagrado e o profano, com o perdão do trocadilho. Em alguns trechos, Dio pode soar diabólico, quase como um porta-voz das profundezas do inferno. No trecho seguinte, na mesma canção, sua voz se eleva de maneira tenra, sensível até, como se ele tivesse sofrido um exorcismo-relâmpago e não fosse não mais apenas um pequeno demônio. E daí seu timbre muda completamente e fica celestial, límpido. Belo, enfim, se 'belo' fosse um adjetivo que a gente pudesse usar para descrever uma canção de heavy metal.

Acho que é por tudo isso que a canção que melhor expressa quem foi Dio é 'Heaven and Hell', o clássico do Black Sabbath.

É tão difícil falar sobre um cara que a gente parece conhecer tão bem, não? Lembro do Dio cantando 'Long Live Rock and Roll' e 'Kill the King', do Rainbow; lembro do Dio cantando 'Rainbow in the Dark', primeiro hit de sua bem-sucedida carreira solo; lembro do Dio imortalizando o 'chifrinho' com as mãos, símbolo que virou sua marca registrada; lembro do Dio cantando em um dos melhores álbuns ao vivo do rock, 'Live Evil', do Black Sabbath (banda que ele deixou logo depois que o disco saiu porque o guitarrista Tony Iommi havia abaixado o volume dos vocais); lembro do Dio organizando o projeto 'Hear 'N' Aid' e lançando a música 'Stars', uma espécie de 'We Are The World' do heavy metal, com renda beneficente para a África.

O heavy metal tinha (e tem) orgulho de Dio. Ele era um vocalista de verdade, um cantor no melhor sentido da palavra. Sabe o que seria legal? Ver o baixinho Dio cantando músicas de outros estilos. Por quê? Só para mostrar para o grande público que ele, na verdade, era um gigante.

Adeus, Dio. Não sei se você foi para Heaven ou Hell, nem estou preocupado. Onde quer que você esteja, anjos e demônios estarão juntos na plateia, aplaudindo de pé.

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Rest in Peace, Man on the Silver Mountain.

Duas histórias legais sobre o Dio:

1. Sabia que se você virar o logotipo 'Dio' de ponta-cabeça é possível ler a palavra 'Devil'?

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2. Em 1984, a hoje extinta revista brasileira 'Roll' publicou uma 'entrevista' com Vivian Campbell, guitarrista da banda do Dio. A matéria era tão inventada que trazia uma resposta dizendo que era 'muito difícil ser uma mulher e tocar numa banda de heavy metal.' Detalhe: Vivian Campbell é homem. Um excelente guitarrista, aliás, hoje no Def Leppard.

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