Falha na comunicação

PUBLICIDADE

Por Estadão
Atualização:

É incrível ver como boas histórias nascem de onde a gente menos espera. Já contei aqui a lição de vida que um motorista de táxi me ensinou; anteontem foi a vez de um menino que vende balas no farol me lembrar da importância do diálogo para um casal.

PUBLICIDADE

Sabe aqueles pacotinhos de bala que vêm com mensagens grampeadas? Pois é, eu odeio aquilo. Os caras andam pela rua, deixam os saquinhos pendurados no retrovisor do seu carro e saem correndo para recolher tudo de volta. Para quê? Será que alguém compra essas balinhas? Ou o caso é uma versão pós-moderna do mito de Sísifo?

(Aquele cara que empurrava uma pedra até o topo da montanha, esperava ela descer e depois empurrava de novo, eternamente)

O garoto deixou o saquinho no meu retrovisor e saiu correndo. Essas mensagens são sempre frases de auto-ajuda ou trechos de algum livro do Paulo Coelho, mas aquela era diferente: "Diga às pessoas que você ama como elas são importantes para você".

Achei tão legal que até pensei em comprar as balinhas, mas o farol abriu e minha pressa pisou no acelerador (o garoto pegou o saquinho de volta antes, claro). Fiquei, porém, com a frase na cabeça. É uma idéia tão simples e tão bonita...

Publicidade

Bom, cheguei no trabalho, cantarolei a velha canção do Stevie Wonder ('I Just Called to Say I Love You') e liguei para a minha mulher.

"Olá, tudo bem? Só liguei para dizer que eu te amo." "Oi, estou meio ocupada agora... Você ligou por quê?" "Liguei só por isso mesmo. Para dizer que eu te amo." "Peraí, pode me contar direito essa história! O que você quer dizer com isso? Aconteceu alguma coisa?"

O resto do diálogo vocês podem imaginar. Ela só sossegou quando contei a história do farol: até então, ela tinha certeza que eu estava tentando me livrar da culpa por ter feito algo errado.

Minha história, no entanto, não é tão ruim quanto outra que li outro dia: o casal freqüentava salas de bate-papo na internet (sem o cônjuge saber, claro) com nomes falsos. Um dia, 'se conheceram', começaram a trocar mensagens de texto e se apaixonaram. Até que combinaram um encontro em um restaurante, pessoalmente. Quando chegaram lá...

O casal se separou, mas talvez o mais correto seria que os dois se abraçassem, pedissem desculpas e recomeçassem a vida do zero. Desta vez, porém, como se fossem os personagens virtuais tão sedutores que mentiam ser. Seria uma bela lição de vida.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.