Detalhes tão pequenos de um Maracanã lotado

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Não consegui ver o show de 50 anos de Roberto Carlos no Maracanã, portanto acabei apelando mais uma vez para minha sensacional repórter-mãe, Helô Machado. Obrigado, Helô, pelo texto. E fica aqui a minha homenagem ao Rei... e aos seus súditos. Long Live the King!

PUBLICIDADE

Maracanã recebe o Rei com muita chuva e todas as emoçõesHelô Machado

O programa de sábado estava garantido. E quem ficou em casa não se arrependeu: durante duas horas e meia - das 22h05 às 00h30 - a Rede Globo exibiu ao vivo mais uma homenagem aos 50 anos da carreira de Roberto Carlos. Batizado de RC 50, a tão aguardada apresentação no estádio do Maracanã, no Rio, foi um verdadeiro espetáculo.

Mais que isso: uma prova de esforço, resistência, competência, talento e muitas emoções do Rei e de seus mais de 60 mil súditos, que não se abalaram com a chuva forte que castigou principalmente os melhores lugares do estádio - as cadeiras brancas simetricamente dispostas no gramado em frente ao palco. Quem se saiu bem foi o público da arquibancada, que tinha cobertura...

São Pedro mandou ver. Não se comoveu nem com a pajelança contratada pelo Rei - dizem que Roberto, extremamente minucioso (e supersticioso), chegou a convocar os serviços de um pajé para afastar a chuva já anunciada nas previsões do tempo - mas não adiantou: 16 câmeras - uma delas no helicóptero - registraram tudo, inclusive a chuvarada.

Publicidade

Mas, afinal, o que é uma chuvinha sobre uma multidão de homens e mulheres de todas as idades, que amam o amor que seu Rei lhes dedica ao longo de 50 anos, através de suas canções?

Exatamente: Nada. Principalmente quando a organização do megashow é mais que perfeita: 500 metros quadrados de palco - bem maior que o da Madonna - 7 telões (3 no palco e 4 no gramado), 800 pontos de luz no estádio, 350 mil watts de som, 200 metros quadrados de cortina de led (componentes de emissão de luz incrustados em tecido preto) na verdade, um imenso telão-cenário, riquíssimo em imagens.

Tudo obra de Genival Barros, chefe de som e luz dos shows de Roberto há mais de 40 anos e de uma equipe de 6 mil pessoas, aptos para também montar o palco com estrutura acrílica em forma de concha acústica. E, claro, para desmontar tudo isso rapidinho - inclusive as placas de plástico rígido com furinhos para não danificar o gramado - hoje teria um jogo no campo entre Fluminense e Santo André!

E o show? Vamos a ele - se eu conseguir conter as minhas emoções, acumuladas ao longo destes 50... digamos, deste tempo. Uma grande orquestra com 38 músicos - o RC 9 (a banda de Roberto), mais uma orquestra de cordas - abre a noite com uma seleção dos sucessos do Rei, enquanto ele entra no palco dirigindo um calhambeque azul.

Desce do carro. Terno, sapatos, camisa branca aberta no peito, traje assinado por Ricardo Almeida. Elegante e... "lindoooooo!", gritam todas, como sempre. Roberto parece falar a verdade: "Que prazer rever vocês! Aqui no Rio de Janeiro, aqui no Maracanã, que emoção, que emoção... A maior emoção que eu já senti em toda a minha vida! Quando eu estava lá, em Cachoeiro do Itapemirim, jamais poderia imaginar que iria viver essa emoção! Cantar no Maracanã, olhando nos olhos de todos vocês! Olhando para vocês, sinto que nós temos uma longa história de amor. Mas se eu estiver sonhando, não me acordem porque eu quero viver esse sonho maravilhoso da minha vida. E eu vou dizer isso cantando."

Publicidade

E ele segue desfilando suas jóias preciosas: 'Emoções', 'Eu te amo', 'Além do Horizonte'. Pega o violão, senta num banquinho para 'Detalhes'. Deixa o violão e segue com 'Outra vez'. Tudo absolutamente igual, a mesma simplicidade, o mesmo jeito de jogar para cá e para lá o pedestal do microfone, o mesmo risinho contido, o mesmo olhar fundo e doce, a mesma tranqüilidade, como faz há anos e anos, onde quer que se apresente. A atenção com os músicos também é a mesma: faz questão de destacar e aplaudir os solos, dizendo o nome de cada músico.

PUBLICIDADE

É aí, então, que a chuva forte começa a cair. E como quem está na chuva é para se molhar, o público que ocupa as cadeiras do gramado vai para perto do palco. As imagens aéreas revelam quadrados e quadrados de cadeiras vazias e uma multidão aglomerada lá na frente...

Seguem-se algumas recordações da infância e dos pais: 'Aquela Casa Simples', 'Meu Querido, meu Velho, meu Amigo' e 'Lady Laura'. O Rei sobe aos céus com 'Nossa Senhora', desce à terra com 'Mulher Pequena'' e volta ao início da Jovem Guarda com 'Calhambeque'. Canta lindamente 'Do Fundo do meu Coração', antes de entrar na sua fase sexy e inesquecível: 'Proposta', 'Viagem', 'Os Botões da Blusa', 'Café da Manhã'.

Para encerrar seu ciclo mais romântico, Roberto escolhe 'Cavalgada', um show à parte da orquestra e da iluminação: freneticamente, as luzes acompanham o ritmo da música no palco e em todos os pontos do estádio.

É hora de lembrar do amigo, parceiro, compadre, irmão Erasmo Carlos, que surge no telão do palco, interrompendo Roberto em 'Amigo'. Papo engraçado, Erasmo entra no palco. Homenagens mútuas. Abraços e lágrimas, muitas lágrimas dos dois. Roberto lembra que o Erasmo tem as suas 'Erasmices'. E conta uma delas: "Num Natal, o Erasmo me telefonou e disse - 'ô Natal, Feliz Roberto Carlos pra você!'" Mais choro e mais risos. Cantam juntos 'Amigo' e 'Sentado à Beira do Caminho'.

Publicidade

Aí é a vez de Wanderléa, linda e jovem, num ofuscante microvestido e longas e altas botas douradas, como nos tempos em que era 'a ternurinha' do Rei. Ela diz que ele "criou uma magia de amor para a sua história e para as nossas vidas". Canta 'Ternura' com Roberto. Erasmo volta e os três lembram 'Eu sou Terrível.' Ele era mesmo terrível.

E já que o momento é de Jovem Guarda, Roberto engata 'É Proibido Fumar'/ 'Namorada de um Amigo meu'/ 'E por isso estou aqui'/ 'Jovens Tardes de Domingo'. O Rei encerra com um texto curto: "50 anos. Fico sem saber se é para rir ou para chorar". Canta o último verso de 'Emoções': "Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi. E mais: "' Como é Grande o meu Amor por Você', 'É Preciso Saber Viver' e 'Jesus Cristo'.

Fogos, choro, aplausos e coro do público, que, aliás, cantou o show inteiro com o Rei. Roberto beija e joga, uma a uma, rosas brancas e vermelhas para a platéia, como faz há tanto tempo. E, desta vez, ainda fala: "Obrigado por tudo, por todos os anos da minha vida. Eu nem sei como dizer, mas eu amo vocês. Nós nos amamos muito. Obrigado, obrigado, obrigado, obrigado..."

Ele sai do palco, a orquestra para, as luzes diminuem. A multidão sai do estádio molhada e com a alma lavada, cantando todas as canções que o Rei fez para nós.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.