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Literatura infantil e outras histórias

Três contos sobre morte para crianças

Em 'A Cadeira Que Queria Ser Sofá', Clovis Levi mostra, com poesia e humor, que a morte também faz parte da nossa existência

Por Bia Reis
Atualização:
 Foto: Estadão

Escritores de literatura infantil e juvenil e editores costumam manter uma certa distância de textos que tratam de temas polêmicos como a morte. Quem escreve relata ter dificuldade para publicar. Quem publica afirma que pouco consegue vender, pois as escolas resistem bravamente em adotar obras que podem causar algum tipo de desconforto - principalmente entre os pais. E as escolas são, no Brasil, o principal comprador da literatura destinada a crianças e jovens. Por isso a importância do aval escolar.

Por isso, o livro A Cadeira Que Queria Ser Sofá e Outros Contos, do escritor brasileiro Clovis Levi e da ilustradora portuguesa Ana Biscaia, recém-lançado pela editora Viajante do Tempo, foge à regra. Nele, Levi apresenta três contos inteligentes e bem-humorados sobre a morte, para crianças mais ou menos a partir dos 7 anos.

 Foto: Estadão

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Espanto Feliz, o primeiro deles, conta a história de País-lândia, cujo imperador, o Rio Peloponeso, perde sua filha Carolina, de 15 anos, logo nas primeiras páginas. Transtornado, ele pensa em morrer também, mas recua e decide baixar um decreto proibindo a morte no país. A partir dai, a história ganha um contorno inusitado. Como ninguém mais morria, a população dobra e a comida diminui. O rei, então, faz outro decreto, desta vez proibindo os nascimentos. Agora, sim, a comida será suficiente para todos. Mas, com o passar do tempo, só há velhos. E Levi continua imaginando o que aconteceria se as pessoas não morressem, mas também não nascessem...

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 Foto: Estadão

O segundo conto é o surreal O Piano de Calda, que fala sobre a vida de uma família de bombons que mora em uma caixa amarela e adora música. Ao ouvir barulho de crianças, Piano de Calda fica excitado com a possibilidade de ser escolhido e retirado de lá para fazê-las felizes. Para ele, a saída da caixa é um passeio. Vários bombons são escolhidos, e Piano de Calda vai ficando, sempre ansioso para fazer o tal passeio.

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Um dia, vendo o parente triste, Trombone de Cerejas explica, sem meias-palavras: "Não é passeio. É morte". Piano de Calda entra em pânico, fica paralisado. Mais uma vez, Levi mostra, sem didatismo, com poesia, que a morte, sim, faz parte da existência.

 Foto: Estadão

O terceiro e último conto é o que dá nome ao livro. Aqui, uma cadeira antiga, de porte nobre, que se gabava por ser linda e ficar na sala em destaque, completa 60 anos. A bisavó, feliz, faz um bolo de aniversário na cozinha, onde a cadeira está agora, e chama a família. A cadeira lembra o passado e se recorda de quando o sofá chegou. Ocupavam a mesma sala. Olhando para ele, sente tristeza, inveja e até raiva. Pensa em como foi sendo deixada de lado aos poucos até ser colocada definitivamente na cozinha.

Na festinha, o neto, já crescido, senta na cadeira. Ela grita, pede para que ele se levante, fica sem ar e se quebra. Aquele objeto, então, é deixado ainda mais de lado: é colocado na garagem. A partir dai sua existência se transforma. O desfecho é criativo e delicado.

Texto e imagem. As ilustrações se articulam com o texto de diferentes formas. Nos dois primeiros contos, ora as próprias palavras são a ilustração ora os desenhos contam um pouco mais que o texto. No terceiro, Ana Biscaia transforma o conto quase em um HQ. A Cadeira Que Queria Ser Sofá e Outros Contos ganhou o Prêmio Nacional de Ilustração de Portugal em 2012 - foi publicado lá antes mesmo de chegar ao Brasil.

Escritor de peças de teatro e roteiros para a TV, Levi, de 70 anos, se aventurou na literatura infantojuvenil por causa de sua neta, hoje com 9 anos. Temas polêmicos, porém, fazem parte de seu arsenal. Antes, havia publicado o infantojuvenil O Beco do Pânico, sobre bissexualidade (Globo Livros, 2012).

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ServiçoA Cadeira Quer Queria Ser Sofá e Outros Contos Escritor: Clovis Levi Ilustração: Ana Biscaia Editora: Viajante do Tempo Preço: R$ 44; 108 páginas

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