Para assuntos distintos, o diretor suíço Lionel Baier utiliza tom semelhante. Em seu último filme, 'Longwave - Nas Ondas da Revolução' - sobre um grupo de jornalistas pego de surpresa pela Revolução dos Cravos, em Portugal -, ele alterna momentos de solenidade dramática com um humor mais leve e sofisticado. Inteligente e acessível na medida certa. Em La Vanité, cujo tema principal é uma morte anunciada, comédia e drama estão igualmente entrelaçados.
O protagonista do longa, indicado à Queer Palm (dedicada a filmes com temáticas LGBT) no Festival de Cannes 2015, é David (Patrick Lapp), um arquiteto idoso que, acometido pelo câncer, pretende realizar um suicídio assistido. É no motel que projetou com a mulher, já morta, que encontra Esperanza (Carmen Maura), funcionária da empresa que dará cabo de sua vida. Para realizar a tarefa, no entanto, é preciso que todos os papéis estejam em ordem e uma testemunha esteja presente, o que complica o desejo de David. A complicação acaba envolvendo, ainda, o michê Treplev (Ivan Georgiev), do quarto ao lado.
Com uma premissa mórbida, o filme se equilibra entre a delicadeza, a comicidade e o drama sério. Em meio a um cenário de cores e objetos tediosos, o foco do longa passa da morte iminente de David às consequências que seu desejo tem sobre os personagens, com sutileza e sem excessos sentimentais.