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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Artista russo faz performance baseada na escravidão no Brasil

Por Sonia Racy
Atualização:

O que de mais surpreendente descobriu em sua pesquisa? Várias coisas. O Brasil parece tão harmônico, equilibrado e feliz... e os brasileiros são felizes mesmo com a desigualdade que existe aí. Meu olhar é diferente porque eu sou gringo, então vejo de fora. Na Alemanha, por exemplo, todos os alemães crescem com culpa, por conta do nazismo. Portanto, a chance de isso se repetir é menor. Na Rússia, não. Não se aprende na escola que o Stalin matou milhares de pessoas. Explicam que ele ganhou a Segunda Guerra. Brasileiros também não sabem direito como foi a escravidão. Eu me surpreendi que os arquivos e materiais sobre a escravidão são melhores em Portugal que no Brasil. E me surpreendi também quando fiz a performance na qual fiquei preso a um poste no Rio de Janeiro.

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Por quê? Quis reproduzir o que aconteceu com aquele menino negro, há alguns anos. Na ocasião, demoraram sete horas até alguém notar o garoto. No meu caso, desde os primeiros minutos muitas pessoas pararam para me acudir. Chamaram até o Bope e eu não falei com ninguém porque queria saber a diferença entre o gringo e o menino negro. Isso aconteceu comigo porque sou branco.

E, nesse contexto, qual é para você o papel da arte para você? A arte para mim não é uma luta. Não sou artista político, não quero fazer nada sobre o governo - até porque não é meu governo. Só posso transmitir as coisas que eu penso. A performance, nesse sentido, é muito boa porque é mais direta e exata nessa experiência.

Sete horas em performance não é fisicamente exaustivo? Isso tem tudo a ver com a própria questão da escravidão. Foi difícil ficar pendurado na árvore. Imagina os escravos que estavam nessa situação por muitas horas? Eu pratico bastante ioga, trabalho com meu corpo com instrumento. Mesmo com toda minha preparação essas performances foram inacreditavelmente fortes. Os escravos eram super-homens/ MARILIA NEUSTEIN

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