EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

'Fatiamento de sentença não valeu para Collor', lembra ex-ministro

PUBLICIDADE

Por Sonia Racy
Atualização:

FOTO: PAULO GIANDALIA/ESTADÃO 

Aos 83 anos, trabalhando em seu escritório em um bairro da zona sul de São Paulo, o advogado e ministro aposentado do STF Sydney Sanches - o "Lewandowski do Collor" - reagiu com certa ironia às decisões de ontem no Senado sobre o impeachment de Dilma. "Minha conclusão é que, no fundo, os senadores queriam, sim, tirá-la mas não estavam lá muito convencidos de seu crime de responsabilidade. Então decidiram amenizar a pena, permitindo que ela possa se habilitar a cargos públicos", disse o jurista que presidia o Supremo e, como tal, comandou no Senado o julgamento de Fernando Collor em 1992

PUBLICIDADE

Ele lembra que, naquele ano, também houve dúvidas - a seu ver improcedentes - sobre juntar numa só sentença a cassação e perda do direito a cargos públicos. "Passamos ao plenário a decisão e o fatiamento não teve vez. O Supremo, seguindo a Constituição, confirmou depois a votação dos senadores." (Decisão que, ontem, levou o agora senador Collor a dizer que, se era constitucional em 1992, devia ser mantido em 2016.) Sanches levanta, a propósito, uma questão: "Se os prazos eleitorais fossem adequados, Dilma poderia, agora, sair candidata em uma eleição?"

O jurista acha difícil comparar os dois julgamentos. "Naquele momento havia um lado só", resume. "Collor não tinha o menor apoio nas ruas nem entre partidos, só uns poucos amigos fiéis." Não é surpresa, assim, "que seu caso tenha durado dois meses e o de agora, nove".

E quanto à atuação de Lewandowski? Ele vê algumas diferenças práticas. "Antes das sessões, eu ia ao Congresso todos os dias, acompanhar a evolução do processo. E o atual presidente da corte seguiu tudo lá de seu gabinete e só foi ao Senado na hora dos depoimentos e da votação". Sua tarefa mais complicada, lembra-se, foi definir o ritual. "Tivemos de juntar, pela primeira vez, normas da Constituição de 1946 que ainda valiam com outras da de 1988, que definiam o andamento do caso."

Conciliar tudo, com aprovação dos senadores, deu trabalho e momentos de muita tensão. Por exemplo quando um senador "collorido" o olhou no olho e disse: "Ok, sr. ministro, vou confiar na sua honestidade." Resposta dele: "Mas saiba que minha honestidade não depende em nada de sua confiança." Passados 24 anos, esse senador cruza com ele, vez ou outra, andando de bicicleta em alguma praça, e o cumprimenta. "Nos tornamos bons amigos", afirma. / GABRIEL MANZANO

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.