QUEM É BETO ANDREETTA: Há 26 anos na Cia. Pia Fraus, Beto Andreetta, de 48 anos, ganhou o Prêmio APCA de melhor cenografia por 'Filhotes da Amazônia', entre muitos outros prêmios. Já atuou com os grupos XPTO, Parlapatões e Acrobático Fratelli e ajudou a criar o Circo Roda Brasil. Para adultos, fez recentemente 'Primeiras Rosas', baseado em contos de Guimarães Rosa.
SERVIÇO DA PEÇA: Tucarena (600 lugares). Rua Monte Alegre, 1.024, telefone: 2626-0938. Sáb. e dom., 16h. R$ 30. Até 30/5.
A ENTREVISTA:
Ao pensar num cenário para peça infantil, você pensa inicialmente no quê? Nas cores? Nas formas? No espaço?
Beto Andreetta - Em realidade, eu sou cenógrafo de um grupo só, a Pia Fraus. Como meu papel no grupo é o de conceber os espetáculos, as ideias chegam já se completando. O cenário está integrado a toda a ideia da encenação.
Há algo que você considere como pecado mortal quando se fala em cenografia para teatro infantil, algo inadmissível e equivocado?
Beto Andreetta - Acho que o tempo de cenários descritivos - reprodução da realidade - já passou. Prefiro os cenários sugestivos, que permitam surpresas.
Em Filhotes da Amazônia, seu cenário prima pela simplicidade e funcionalidade, surpreendendo a todos no final, com a transformação que se revela. Fale um pouco dessa sua criação.
Beto Andreetta - Eu estava em Manaus, no projeto Palco Giratório, e contei o roteiro de Filhotes para o Vinícius, um dos atores, e ele comentou que estava faltando uma estória de tartaruga. Eu fiquei pensando naquilo e me veio a ideia da tartaruga ser o centro da estória, o invólucro, onde tudo acontecia. No mesmo dia, ainda em Manaus, fui visitar um centro cultural em forma de uma grande oca e fiz as associações entre oca e tartaruga. Depois, foi só buscar as soluções de criar várias aberturas nessa oca/tartaruga, que dessem a sugestão da oca conter toda a natureza, como o rio, a própria floresta, a aldeia... E quando a tartaruga se materializa é prazeroso ver a surpresa nas pessoas, porque ela estava lá todo o tempo e as pessoas só notam no final.
Você acha que, ainda hoje, as produções infantis têm de pensar em cenários mais fáceis de montar e desmontar, pensando no pragmatismo de liberar o palco o quanto antes para a peça adulta que virá a seguir?
Beto Andreetta -Talvez eu seja uma voz dissonante, porém eu acho que as produções devem, sim, se adequar à essa realidade de monta/desmonta do cenário. O teatro é um prédio muito complexo e caro, ele deve ser utilizado ao máximo, abrigar várias produções. Eu não vejo como problema, vejo como uma situação que deve ser enfrentada com criatividade e competência técnica.
Numa peça para crianças, quais as dificuldades de se retratar o Brasil (bichos, matas, personagens)? Há o risco constante do didatismo e de se reproduzir estereótipos escolares?
Beto Andreetta - Nos 26 anos de Pia Fraus, realizamos 20 diferentes espetáculos, viajamos por 20 países diferentes e por todo o Brasil. Percebemos que os espetáculos bem brasileiros que produzimos geram grande interesse dentro e fora do País. Somos apaixonados pelo Brasil e toda a sua cultura é fonte riquíssima de inspiração para o grupo. A própria cultura popular brasileira criou soluções brilhantes de representação em todas as suas variantes - artesanato, dança, música etc... Sempre procuramos trabalhar com artistas que gostem de pesquisa e também de ousar. Creio que isso nos ajuda a sempre tentar coisas novas.
Que cenários recentes ou não, de teatro infantil, você citaria como exemplares e por quê?
Beto Andreetta - Gostei muito do cenário do Serroni em O Colecionador de Crepúsculos, direção de Vladimir Capela, pela monumentalidade e solução de materiais, todos de custo baixo e grande impacto final.
O fato de atuar como diretor e ator e, ao mesmo tempo, fazer o cenário da própria peça, deve trazer vantagens e desvantagens, não? Quais?
Beto Andreetta - A Pia Fraus é um grupo muito autoral. Criamos a concepção geral dos espetáculos. Isso eu considero um fator positivo do trabalho. Você está em cena mais convicto da verdade do espetáculo.