* A adesão de novos assinantes, afinal, que chegou a crescer 30% ao ano entre 2010 e 2012, acumula 10% de avanço, se tanto, no último ano.
* Em compensação, a audiência dos chamados OCN (Outros Canais, o que, na nomenclatura do Ibope soma todos os canais pagos e uns poucos pingados públicos e em UHF) cresceu mais que qualquer outro canal no primeiro semestre deste ano: o segmento progrediu 20%, na média dia (das 7h à 1h), em relação ao mesmo período de 2013. Resumo da ópera: quem paga para ver TV está finalmente vendo mais TV paga do que antes, revelando algum delay na aquisição de novos hábitos.
* Ver mais TV paga que antes também não significa ver mais TV paga que aberta. Mesmo no universo de PayTV, são Globo, Record e SBT quedetêm os primeiros lugares do ranking de audiência. Mas, na quarta posição,já aparecem pagos como Discovery Kids, Cartoon Network e, durante a Copa, SporTV. Esse é um fenômeno mais recente.
* Sim, o espectador demora um pouco a zapear e a cultivar novos hábitos, reconhece Alberto Pecegueiro, diretor da GloboSat. O Viva, lançado sob as asas do grupo, teve uma forte participação nesse comportamento, ao arrastar para o dial de canais pagos um público muito habituado às novelas e séries da Globo, por exemplo. Não à toa, o canal agora ganha uma sintonia em HD, mesmo que ainda exiba muita produção antiga, captada antes da era da alta definição. Mas, para Pecegueiro, ressalte-se, o setor não enfrenta recesso no crescimento de vendas, visto que, em números absolutos, o saldo do ano supera o do ano anterior.
* Sim, o assinante foi auxiliado pelo reagrupamento de canais na aquisição de novos hábitos, orgulha-se Márcio Carvalho, diretor da NET, maior operadora de TV paga do País. Ao mudar o posicionamento de canais e uni-los de acordo com o tema, a NET também priorizou no line up os canais básicos, deixando as emissoras premium, de pacotes mais caros, em números mais altos. "Antes, o assinante zapeava até determinado número e, se não fosse assinante do Telecine ou da HBO, nem via o que havia depois disso, parava ali. Agora, não: Telecine e HBO só começam a aparecer depois da numeração dos básicos, o que fez com que alguns canais crescessem até 80%", completa Carvalho.
***Mas tem mais.***
A indústria também passou a se preparar melhor para receber esse novo assinante, oriundo da nova classe C, em sua maioria. Todos os canais passaram a priorizar programação dublada, relegando as legendas à condição alternativa de áudio.
O cardápio está mais didático e, a despeito do que se dizia lá no início da TV paga, sobre a qualidade se sobreporà quantidade, as emissoras por assinatura estão, sim, interessadas em multiplicar sua plateia em números, como admitiu o diretor da FOX, Paulo Franco. "Nós buscamos realmente o quantitativo. As pessoas têm TV por assinatura e a grande maioria ainda vê TV aberta", argumentou.
A premissa faz sentido.
Mas também abre outro paradoxo. Se o assinante não sentir diferença entre TV paga e TV aberta, por que meteria a mão no bolso para pagar por mais do mesmo? Porque a proposta não é exatamente imitar as limitações da TV aberta, mas, talvez, expandir suas possibilidades e multiplicar as variações do cardápio.
Paga-se, talvez, pela pluralidade do leque, e o desafio dos programadores é buscar esse equilíbrio que tenta seduzir o espectador.
Passamos algum tempo justificando que nossa TV aberta era muito boa e isso não incentivaria o público a pagar por algum serviço, ao contrário da Argentina, onde a TV aberta seria muito fraca, o que forçava o público a pagar por algo menos ruim, e justificaria a alta penetração porcentual de assinantes no universo da população.
Agora, temos uma Globo, foco do que se entende como TV aberta de "boa qualidade", em tendência de queda, em contrapeso à TV paga, que avança na audiência, com canais infantis e esportivos na primeira fila (na faixa nobre, a FOX marca relevante presença no topo).
Mas, por fim, repare que mesmo em queda, a Globo mantém a liderança de audiência absoluta, ainda entre quem paga pra ver TV.
É quase a equação do ovo e da galinha.
Mas, no frigir dos frutos, todo mundo sai ganhando, inclusive o consumidor, que hoje dispõe de uma flexibilidade de pacotes bem maior do que nos primórdios da TV paga, em boa parte, graças à concorrência (e nisso se inclui a fartura de conteúdo, sob baixo custo, propiciada pela web).