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Para elenco de 'Dez Mandamentos', campanha da Igreja Universal pelo filme "é natural"

Por Cristina Padiglione
Atualização:

 

Se a Igreja Universal incentivou, por meio dos cultos em suas unidades, que os fiéis corram ao cinema para ver Os Dez Mandamentos, primeiro filme longa-metragem da Record, "qual é o problema?", questiona Sérgio Marone, o Faraó Ramsés, antagonista do enredo de Vivian OLiveira, baseado na história bíblica. O ator conversou com o Estado logo após a exibição da sessão de pré-estreia do filme, na noite desta terça-feira, no Shopping JK, em São Paulo. O filme entra em cartaz a partir desta quinta, dia 28, em mais de 1000 salas por todo o País, acumulando já mais de 2,5 milhões de ingressos vendidos em sistema de pré-venda.

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"Acho incrível. Qual é o problema de fazer isso?", reforça Marone. "É um produto da casa e a casa está incentivando que isso seja consumido. A TV Globo ou a Revista Veja também não mandam a gente comprar produtos embutidos com essas marcas todas? Isso é muito mais grave do que convidar as pessoas a verem um produto da casa. Qualquer meio de comunicação acaba fazendo isso e incentiva a algumas coisas muito ruins, como comer enlatados, produtos embutidos, tantos apresentadores e tanta gente famosa incentivam tanta gente a comer. O que é pior? A Globo também vende os produtos dela."

Conversei ainda com Denise Del Vecchio, Paulo Figueiredo e Sidney Sampaio, o Josué, protagonista da continuação da história - A Terra Prometida, programada para estrear após uma breve segunda fase de Os Dez Mandamentos, prometida para março.

Nenhum deles acha plausível atribuir o sucesso das pré-vendas à campanha da Universal ou à audiência meramente evangélica.

"Meu porteiro é um padre, de tão católico, e adorava ver a novela", conta Denise.

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"Independentemente da religião, é uma grande história", emenda Sidney. "A obra tem uma grande qualidade, promover o filme dentro do grupo é o que todo mundo faz, a propaganda é a alma do negócio".

"O que eu acho bom mencionar como algo que transcende isso tudo é a qualidade técnica e artística desse trabalho, que é monumental", fala Figueiredo. "Além do fato das pessoas que têm alguma tendência religiosa, as pessoas vão ver. E é uma maneira de as pessoas entenderem a Bíblia, antes de ler a Bíblia."

 

Ao gravar um depoimento para as redes sociais da Record, convidando a plateia a ver o filme, Marone cometeu ato falho ao agradecer "aos deuses". Vai na contramão de toda a mensagem transmitida pelo enredo de Moisés, endossado pela crença de Edir Macedo, de que só um Deus deve ser venerado e respeitado.E quem vai contra Ele, só há de se dar muito mal. "Eu sou egípcio até o final", brincou Marone, reforçando a trajetória de seu Ramsés, personagem que nega a soberania divina única na qual acreditam os hebreus.

"O sucesso da pré-venda superou todas as expectativas, assim como o sucesso da novela também superou todas as expectativas", diagnostica o ator.

O filme buscou uma narração exclusiva de Josué para emendar determinados trechos que ficariam sem sentido na edição de tantas horas condensadas em apenas 120 minutos. A exibição em tela grande só enalteceu a primazia dos efeitos especiais e o HD não fez feio - ao contrário - na ampliação das imagens, submetidas a um processo de remasterização. Tecnicamente, em termos de imagens, a produção tem seu valor e justifica seu sucesso. Já o enredo, seguindo à risca o maniqueísmo de um Deus que castiga a todos que negam sua soberania, flerta um bocado com o didatismo, sem brechas para a incompreensão do espectador. Afinal, se o título atingir de fato os evangélicos mais fervorosos, estaremos falando de um público que, em geral, não é de frequentar os cinemas, e não vai aí nenhum preconceito meu - esta declaração me foi feita por um dos altos chefões da Record, sempre solicitando anonimato.

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Ao mesmo tempo, convém lembrar que o esmero em enredos de fácil compreensão para fisgar grandes bilheterias também não é exclusividade das produções bíblicas interessadas em fiéis. A Globo Filmes, afinal, capricha nas comédias rasgadas para produzir aqueles robustos números de bilheterias. E funciona.

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