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Nova novela das 6 é a antítese da anterior

Por Cristina Padiglione
Atualização:

De sábado até segunda-feira, ou de 11 a 13 de julho, mais de um século se passou na faixa das 18h (melhor citar 18h30) da Globo. São Paulo e "o Sul" do País agora ocupam o cenário.

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Mas não é a passagem de tempo e espaço ou a troca absoluta do elenco que trouxeram estranheza ao telespectador. Ao contrário. Não há estranheza. O público recebeu, com a estreia de Além do Tempo, o melhor resultado da receita à qual já está bem habituado: vilões devidamente posicionados nos seus lugares, mocinhos, neuróticos e antipáticos idem, sem deixar dúvida sobre quem é quem na ética universal dessa história.

Na contramão de Sete Vidas, enredo de Lícia Manzo encerrado na semana passada e louvado pela delicadeza de abordar conflitos humanos sem eleger propriamente um bandido e um herói, a nova trama do horário, de Elizabeth Jhin, não deixa margem para a imaginação do espectador a respeito do caráter de cada um. Trata-se aí de uma produção menos ousada, mas nem por isso menos envolvente.

Nesse sentido, falamos de um primeiro capítulo clássico na essência do folhetim, capaz de apresentar, num único episódio, a que vieram esses novos personagens. A trama é certeira na arte de alcançar de imediato o coração da plateia. Não sobram arestas no conjunto da obra que une texto, direção e pós-produção, com apoio do figurino, cenografia e direção de arte.

Mas é na atuação de três figuras, mais que de outras, que a história agarra o público: Nívea Maria, Irene Ravache e Ana Beatriz Nogueira nos convencem a voltar para ver o segundo capítulo. Confesso que, de todas, a que mais me encanta é a severa governanta de Nívea, mulher que não se permite esboçar um único sorriso, profissional de fazer inveja ao comando da criadagem de Downton Abbey, a propriedade que dá nome à série que acabou por inspirar a imaginação da autora para a ocasião. Já a personagem de Ana Beatriz, atormentada pela morte do amado a quem promete encontrar em curto prazo, embora tenha sua própria história, tem a relevante missão de tentar afastar a filha, linda noviça esboçada nos traços de Alinne Moraes, do mocinho vivido por Rafael Cardoso. Fechando o triângulo, Paola Oliveira é a noiva prepotente, mimada e segregadora daqueles dias. Assim como Nívea e Ana Beatriz, Irene tampouco sorri. É a condessa a quem todos temem, senhora de suas decisões, mulher má.

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Além do Tempo é novelão. E veja que, fora a conversa entre Ana Beatriz e o morto, ao pé do túmulo, o teor espiritual sequer deu o ar da graça no primeiro capítulo. Para bons entendedores do tema, claro, há o cruzamento fatal de olhares entre Rafael e Alline no encerramento do episódio, indício de que os dois se conhecem de vidas passadas. Se há vida após a morte ou não, quem liga? O que vale é saber que o gênero "I see dead people" continuará gerando bilheterias em qualquer lugar do planeta, enquanto o mundo dos vivos existir.

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