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Mais uma oportunidade para ver o mestre B.B. King em São Paulo

do Estado de S. Paulo

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Por Redação
Atualização:

B.B. King não fez pacto com o diabo. Ele acredita em Deus, tem um coração generoso, mas reconhece que uma força estranha o possui quando está diante da plateia, de costas para a orquestra, com Lucille nos braços. Algo paralisa sua espinha, contrai seus músculos do rosto e faz seu coração migrar para a ponta do dedo indicador da mão esquerda.

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É lá que tudo ganha sentido. 87 anos de vida, 15 filhos distantes que ele ama mas não viu crescer, pencas de mulheres que deixou em hotéis de estrada, desgostos, tragédias, vitórias e condecorações em apenas uma nota que vibra mais forte do que as outras três ou quatro que B.B. usa para contar uma história inteira.

 Há 80 anos é assim, desde que Riley Ben King, antes de ser B.B., descobriu as duas coisas que o fariam viver em constante estado de levitação: sexo e blues. Mais especificamente Peaches, uma garota de 7 anos de idade, um ano mais velha do que B.B., que brincava com ele de médico sob a luz de um lampião, em Memphis, e Lowell Fuson, o guitarrista que gravou "Three O?Clock Blues" e deixou o moleque embriagado pelo som da guitarra. "Foi esta música que mudou a minha vida", disse B.B. em suas memórias, lançadas em 1996.

Eis o mistério da invencibilidade de um homem que chegou a demitir o infeliz de um empresário que insistia que ele largasse a estrada e só fizesse shows nos Estados Unidos. O último bluesman da primeira safra de 40 em atividade (Buddy Guy e Magic Slim são apenas seus alunos).

O primeiro artista que fez brancos e negros dividirem a mesma plateia e se levantarem para aplaudi-lo durante os anos de segregação racial. B.B. King conta sua história todas as noites em que está com Lucille, usando poucas notas e, sobretudo, o indicador da mão esquerda.

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 Às 22 h desta sexta, começa tudo outra vez. A temporada de B.B. King em São Paulo, depois de passagens pelo Rio e Curitiba, se estende até sábado, no Via Funchal, e termina domingo no palco de sua residência no País, o Bourbon Street Music Club, que ele veio para inaugurar em 1993 depois de uma gloriosa batalha empreitada pelo empresário Edgard Radesca e seus sócios.

 Foto: Estadão

"Pagamos parte do cachê com um empréstimo que pegamos no banco e outra parte com o dinheiro que levantamos em uma sociedade por tempo limitado aberta entre 20 amigos", lembra Radesca. 

Os trajetos de BB pelos países em que se apresenta são sempre feitos de ônibus. E não por temer que sua aeronave despenque. King gosta de sentir a estrada e detesta procedimentos de segurança dos aeroportos. Não é mesmo fácil imaginá-lo tirando o cinto e os sapatos para passar em um detector de metais. Em um ônibus seguem técnicos e banda.

Em outro, vão King, seu empresário e o mordomo Norman, que há 50 anos sabe exatamente como controlar a diabete do patrão fazendo seu chá com a medida certa de adoçante e não esquecendo o horário das refeições. Quando não ronca, olha a paisagem passar pela janela ou acessa e-mails em seu laptop. 

O Brasil é um lugar que faz King quebrar protocolos. Sábado, no Rio de Janeiro, fez um bis que não estava na lista depois de sentir a maior aclamação de sua temporada. E tudo porque aprendeu a contar uma história de 87 anos com toda a verdade que coloca em quatro ou cinco notas. 

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B.B. KING

Via Funchal (R. Funchal, 65). Tel. (011) 3846-2300. 6ª e sáb., 22 h. R$ 250/700; Bourbon Street (R. dos Chanés, 127). Tel. (011) 5095-6100. Dom., 22 h. R$ 1.200.

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