O espetáculo King Size, do suíço Christoph Marthaler vai explorar a seguir uma estranha conexão a partir de uma construção musical em cena, enquanto busca conexões com sua audiência. Não se trata de uma produção com a estrutura dos conhecidos musicais norte-americanos, que alternam diálogos e canções ao narrar uma história. Sua estrutura surge de modo mais subjetivo, em jogo direto com a situação.
Por isso, os primeiros minutos oferecem com simpatia e um mergulho na experiência no ambiente altamente decorado de um quarto de hotel, no qual ouve-se canções de Anika a Jackson Five.
De algum modo, a musicalidade da montagem flerta com a construção de Suíte Nº 2, no qual som e palavra cumprem funções outras que não apenas narrativas ou de ação. Mas curiosamento, ao longa da montagem passam a desvelar as relações das personagens.
Em King Size, os performers cantores criam situações cômicas, pelas canções inusitadas, sem aparente conexão, e o modo como são apresentadas.
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Com grande qualidade técnica, eles performers concretizam no quarto do hotel, um espaço surreal atravessado por sentimentos de solidão e por uma melancolia burguesa, no qual o maior dos problemas é não alcançar a cerveja no frigobar ou dormir demais enquanto espera-se o amado.
O riso inevitável, que vem da repetição, da reafirmação do espaço, e de ultrapassar suas barreiras casuais, como sair de dentro do guarda-roupa ou cantar debaixo da cama, uma das melhores cenas, faz de King Size, um 'Fim de Partida', às avessas, no qual as canções entalham o ambiente, e também revelam, sobretudo, a aura de uma classe cheia de privilégios e que alienada do exterior, une-se à plateia ao criar as próprias fábulas de sua sobreviência.