Quem foi o primeiro guitarrista a quebrar seu instrumento ao vivo?

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Por Alexandre Ferraz Bazzan
Atualização:
Hendrix, Townshend e Jeff Beck Foto: Estadão

O The Who já era uma banda estabelecida quando foi a Monterey, na Califórnia, tocar no festival que seria modelo para todos os que viriam depois, inclusive Woodstock. Pete Townshend tinha verdadeiro fascínio por Jimi Hendrix e boatos diziam que foi ele, ao lado de Paul McCartney, quem pediu à organização para que incluísse o americano no evento.

Tempos antes, em uma sessão de cinema casual, Eric Clapton diria que Hendrix era ameaça à coroa de guitar hero de Townshend, ao que ele responderia "mas parece que ele também toca o blues." A pichação com os dizeres "Clapton is God" era comum nos muros de Londres pelo talento do blueseiro ex-Cream.

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Afinal, quem foi o primeiro músico a quebrar uma guitarra? O jornalista Gastão Moreira explica que houve outros casos de instrumentos destruídos, como o baixo de Charles Mingus, o violão de Elvis Presley em Prisioneiro do Rock(Jailhouse Rock) ou o piano em chamas de Jerry Lee Lewis. Entretanto, o primeiro artista a adicionar esse tipo de sacrifício como parte da performance foi de fato Pete Townshend. "Nos casos anteriores o que ocorreu foi um acesso de raiva por uma falha técnica ou desrespeito por parte do público, como aconteceu com o Sérgio Ricardo aqui no Brasil no Festival da Record", conta Moreira.

Carlos de Oliveira, também jornalista, diz que não tem registro de outro personagem histórico com o costume de estraçalhar seu instrumento de forma frequente. "Ele não quebrava só a guitarra, mas também o amplificador... se você procurar no youtube, você vai ver cenas de total destruição do equipamento", explica.

O acidente de trabalho que mudou o rock. Em uma terça-feira de junho de 1964, o Who fez sua estreia no Hotel Railway, oeste de Londres, tocando alguns clássicos do R&B. Apesar da raiva e agressividade presente nos shows, Townshend ainda não tinha o costume de quebrar seu instrumento. Ele joga a guitarra para cima que volta com a mão quebrada depois de se chocar com o teto.Em poucos segundos ele toma uma decisão, arremessa sua Rickenbacker mais algumas vezes para o alto e despeja no chão o que sobrou dela. Pega a Rickenbackaer sobressalente e continua com o espetáculo.

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Foto promocional de 'The Kids are Alright' Foto: Estadão

Muitos anos depois, em uma entrevista para a revista Rolling Stone, ele assume que o ritual começou acidentalmente, mas que era algo inevitável. A frustração com os traumas de infância e o fato de não poder tocar da maneira que gostaria, já que a composição e viagens com a banda deixavam pouco tempo para aprimorar sua técnica, faziam com que o Who fosse violento ao vivo. Townshend, estudante de arte antes de ser músico, nutria admiração pelo artista plástico Gustav Metzger que usava a destruição como algo simbólico. Não demorou muito para que Keith Moon passasse a acabar com sua bateria, muitas vezes colocando explosivos nela, e Roger Daltrey raspasse e girasse seu microfone no ar em tom desafiador. A exceção era o baixista, John Entwistle, que ficava prostrado como um carvalho em seu canto do palco.

Nesta apresentação para a TV, Keith Moon exagerou nos explosivos que colocou em sua bateria. O estouro, além de colocar fogo no cabelo de Pete Townshend, comprometeu a audição do guitarrista para o resto da vida.

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A revista Rolling Stone elegeu este acidente de trabalho(a destruição da guitarra de Townshend no Hotel Railway) como um dos 50 momentos que mudaram a história do rock. Esta, porém, não foi a única colaboração de Pete para a música. Segundo ele, em sua autobiografia, ele também foi responsável pelo feedback de guitarra, quando passou a pressionar o instrumento contra a parede de amplificadores, e o power chord. Não se pode dizer que Pete fez o primeiro álbum conceitual da música, já que Sgt. Peppers veio antes que Tommy, mas com certeza ele elevou esse tipo de arte com Quadrophenia e o próprio Tommy.

Em 2014 o The Who completou 50 anos, a segunda banda a conseguir tal feito ao lado dos Rolling Stones, com um disco que revisitou os hits de toda a carreira e uma turnê de despedida. Gastão Moreira diz que conversou com Roger Daltrey 2 anos atrás, e o vocalista afirmou que tocar na América do Sul é um sonho para a banda, mas que nem sempre os organizadores estão dispostos a bancar toda a estrutura de palco para que ele e Townshend, os dois últimos sobreviventes da formação original, possam realizar o espetáculo a contento. Só resta cruzar os dedos.

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Veja outras guitarras sendo massacradas por seus donos:

A angústia de Kurt Cobain era despejada em suas músicas e apresentações. Certa vez, em uma entrevista, os integrantes do Nirvana justificaram o caos criado ao fim dos shows: "Assim não precisamos dar bis."

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O Kiss incorporou teatralidade em todos os aspectos de suas apresentações. Enquanto Gene Simmons cospia fogo e sangue, e Ace Frehley solava até tirar fumaça de sua guitarra, Paul Stanley criou um ritual que se repete ainda hoje batendo seu instrumento no chão e dando o que sobrou dele para a plateia.

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Assim como Pete Townshend, Richie Blackmore, do Deep Purple, tinha grande agressividade e fazia a guitarra sofrer.

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Stevie Ray Vaughan maltrata a guitarra como se ela fosse desobediente. Não era, ela obedecia cada comando de seu dono.

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Cinema

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Um contrariado Jeff Beck pisa em sua guitarra em Blow up - por trás daquele beijo de Michelangelo Antonioni. Ele não costumava fazer isso em suas apresentações, mas, a pedido do diretor, sacrificou seu instrumento em frente às câmeras.

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Elvis Presley fica com raiva e quebra um violão na mesa de um espectador falastrão. A cena é do filme Jailhouse Rock - Prisioneiro do Rock. O rei, entretanto, ficou mais conhecido por sua voz e rebolado do que esse tipo de atitude explosiva.

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