Cat Power toca de graça na véspera da Black Friday

Todos já se preparavam para gastar uma grana nesta sexta-feira preta, dia consumista importado dos EUA. O negócio é tão caricato que criaram até a semana Black Friday. Não seria Black Week? Mas como diria Eddie Vedder: "can't buy what I want because it's free".  Cat Power é daqueles artistas que não saem do Brasil, e toda vez que ela aparece por aqui é sempre a mesma correria dos fãs para assistir seus shows. Desta vez a cantora tentou algo inusitado, um set curto, com cinco músicas, no meio da estação Paraíso do metrô. A apresentação surpresa foi divulgada por ela mesma nas redes sociais e não demorou para que as pessoas ocupassem boa parte da plataforma de embarque.

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Por Alexandre Ferraz Bazzan
Atualização:

 Foto: Alaska Ferreira/Reprodução: Cat Power sorri durante show no metrô

O palquinho parecia pequeno para tanta gente que compareceu e logo quem estava mais a frente se sentou para que o pessoal do fundão também pudesse enxergar. O sistema de som fez dois anúncios: o primeiro informando o andamento dos trens enquanto Chan cantava Metal Heart, do disco Moon Pix de 1998, e ela sorriu ao ouvir a voz nasalada que atrapalhava sua apresentação. O segundo anúncio foi ao fim do show e alertava que era proibido sentar nas dependências do metrô. Tarde demais.

Márcio Fernandes/Estadão Foto: Estadão

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Cat Power em cinco atos

Em 2007 eu ainda morava em Ribeirão Preto e teria que tomar dois aviões para ver a gata poderosa na Marina da Glória, no Rio de Janeiro. Como o primeiro voo atrasou, acabei perdendo o segundo. O governo tinha acabado de proibir a venda de álcool nas estradas, mas como a lei não falava nada sobre viagens aéreas, e eu estava resignado a perder o show, fui tomar uma cerveja antes de tentar comprar outra passagem. No fim das contas acabei chegando antes do avião que eu deveria ter pegado originalmente. Consegui ouvir Anthony do Anthony and the Johnsons dizer que o punk agora era silencioso, que as músicas calmas iriam revolucionar e não mais as barulhentas. Talvez ele tivesse razão, mas surreal mesmo foi assistir Cat Power ladeado por Sabrina Sato e Dado Dolabella.

A segunda vez que vi Chan Marshall foi no festival Bonnaroo, nos EUA. O melhor de todos os que assisti, ou The Greatest pra usar o título de uma de suas melhores composições. Eu tentava explicar a um primo mais novo por que gostaria de me casar com ela, mas ele sustentava que Liz Phair ainda era mais bonita. Essa juventude está definitivamente perdida.

Na terceira ocasião tive que me deslocar para Jundiaí. Ela é conhecida por mudar muito as músicas quando canta ao vivo, assim como o mestre Bob Dylan do qual ela é fã confessa. São várias improvisações, mas nessa Virada Cultural Paulista ela fechou o set tocando bateria em uma versão legal de I wanna be your dog dos Stooges. Algo para ficar marcado nas mentes das pessoas que enfrentaram uma fila digna dos piores dias do INPS para retirar os ingressos, que eram gratuitos, no bonito teatro Polytheama.

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Antes de vê-la no metrô, ainda tive o prazer de arrumar entradas com amigos de uma amiga para o concerto que ela deu no Cine Joia, ano passado. Ela estava mal em vários sentidos, mas as canções novas do disco

Sun

seguraram bem uma apresentação que, desde o atraso de mais de uma hora, tinha tudo para desandar.

Ela ainda tocará duas vezes no festival Popload, em São Paulo, um dos dias cobrindo o Beirut que cancelou sua participação de última hora. Quem já recebeu a primeira parcela do décimo terceiro teve que quebrar o cofrinho para conseguir um ingresso. Resta saber se ela planeja mais alguma surpresa para esses dois shows.

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